segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A Esperança Em Campos Santos

"MORTE TU QUE ÉS TÃO FORTE / QUE MATAS O GADO , O RATO E O HOMEM ........" Este é um trecho da música CANTO PARA MINHA MORTE , uma das mais melancólicas e também uma das mais belas músicas do rei do rock brasileiro , RAUL SEIXAS ,  e que aborda a única certeza que temos nesta curta passagem pelo planeta Terra . Dependendo do grau de importância do falecido  a morte , além de ser uma certeza , também pode modificar completamente a história de um país e o Brasil que o diga .........a morte do governador da Paraíba e candidato derrotado à vice-presidência do Brasil JOÃO PESSOA , por motivos pessoais , acabou sendo o estopim do movimento que levou o caudilho gaúcho GETÚLIO VARGAS  ao poder em 1930 e onde permaneceria durante longos 15 anos ; o suicídio deste mesmo Getúlio Vargas , em 24 de agosto de 1954 , acabou evitando um possível golpe de estado e a morte do ponderado e hábil negociador TANCREDO NEVES , em 21 de abril de 1985 , acabou levando à presidência da república o seu vice , JOSÉ SARNEY , filhote da nada saudosa ditadura e junto com ele a hiperinflação , um discurso vazio e folclórico e desastrados planos econômicos .

 A recente morte do candidato à presidência da república e ex-governador de Pernambuco , EDUARDO CAMPOS , parece ter dado um gás à candidatura de MARINA SILVA . Será o fim de uma longa hegemonia do outrora partido dos trabalhadores ? Na crônica de hoje o jornalista , escritor e produtor cultural JOEL GEHLEN comenta a relação entre política , poder e morte . CONFIRA :

"A morte é a mais engenhosa criação cultural . E as controvérsias sobre a posteridade estão entre as mais profícuas causas de matanças no passado e no presente . Em sua defesa , religiões e impérios foram criados e destruídos . É o mote para bilhões de obras artísticas e monumentos , e a dimensão intangível mais concreta , presente e determinante em nossas  curtas e miseráveis vidas .



 Já era noite no Recife , quando o toque de clarinete cessou e o esquife deslizou lentamente para o fundo da cova . Trabalhei o domingo inteiro , mas consegui ligar a TV a tempo de pegar o fim dos encômios ao falecido .



Enquanto os fogos de artifício iluminavam o céu choroso de Pernambuco , eu quis que não fosse um homem descendo ao sepulcro mas o modelo político que vigeu no Brasil nos últimos 30 anos .

 Desde o enterro de Tancredo Neves demonstramos um talento irrefreável para produzir entulhos institucionais , criamos um atoleiro legal que faz o País patinar  e desarcoçoa o povo . Tudo vai mal ,mas os piores indicadores estão na decência política . Basta dizer que o grupo hegemônico no poder transitou ' reserva moral ' à condenação pelo maior esquema de corrupção da história .





 A agenda nacional está atrasada pelo menos meio século , perdendo o bonde e a esperança . O instinto de sobrevivência e a armadilha da ' governabilidade ' impedem a reforma dessa política que levou o País ao impasse . Só uma força de exceção para produzir o rompimento necessário .

 Enquanto o lenho descia ao campo santo , pensei que , no Brasil , os cadáveres têm mais força que os vivos para mover a história . Nessa mesma Recife com seus rios e pontes , em 1930 a morte de João Pessoa precipitaria a revolução que levou Getúlio Vargas ( FOTO ABAIXO )



 ao Catete (NOTA DO BLOG : antiga sede do governo federal , hoje MUSEU DA REPÚBLICA , no Rio de Janeiro ) , quebrando o ciclo do 'café-com - leite' ( NOTA DO BLOG : hegemonia política de São Paulo , maior produtor de café , e de Minas Gerais , maior produtor de leite )  . Para além dos atos nefandos do caudilho , é inegável que , com o fim da República Velha ( NOTA DO BLOG : período entre 1889 e 1930 , em que na maioria das vezes o presidente ou foi mineiro  ou foi paulista ) , o Brasil finalmente entrou no século 20 .

 Então , aquele  encontro no cemitério , com fogos e vivas , com lágrimas e risos , fizeram-me acreditar que não descia à tumba  o homem da esperança nos olhos ,



mas a Nova República , envilecida e prematuramente envelhecida . Que a campa de Campos desencadeie um tempo de brio na política e o clarão dos rojões faça raiar o século 21 na Alvorada , mesmo que com 14 anos de atraso . "

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