segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Ingratidão

Vivesse ele hoje , é quase certo que estivesse na mídia e fosse lembrado , talvez fosse um compositor consagrado ou quem sabe até um cantor ..........Acontece que ele nasceu na época erada - 1861 -  e uma sociedade provinciana , atrasada e escravocrata cometeu o "crime"  de ter nascido negro.........Em 24 de novembro de 1861 vinha ao mundo , filho de escravos  , na então vila de Desterro , capital da província de Santa Catarina , um menino que receberia o nome de João . Acabou não tendo o mesmo destino cruel que seus pais : foi criado e educado com esmero pelos seus senhores . Estudioso , o que aquele menino mais gostava era de escrever , especialmente poesias . Após concluir os estudos , ele começou a escrever crônicas e poesias defendendo seus irmãos negros . Também foi redator e responsável  pelo jornal TRIBUNA POPULAR e  , com seu amigo VIRGÍLIO VÁRZEA , escreveu seu primeiro livro de poesias , chamado TROPOS E FANTASIAS . Na mesma época o infame racismo mostrou suas cara e  seu nome acabou sendo vetado para exercer um cargo público em Laguna , apenas por ser negro........Em 1890 trocou a provinciana e pequena Desterro  pelo Rio de Janeiro , onde trabalhou como funcionário burocrático da estrada de ferro CENTRAL DO BRASIL e como colaborador do jornal FOLHA POPULAR . Ali mais uma vez o racismo mostrou sua cara : jamais foi promovido no local onde trabalhava apenas por ser negro.........Em 1893 , com o livro BROQUÉIS , ele praticamente criou uma nova forma de fazer poesia : o SIMBOLISMO . Tratava-se de uma poesia baseada em nosso inconsciente , especialmente em nossos sonhos e extremamente musical .

 Seus últimos anos de vida foram intensos e mais 4 livros de sua autoria foram publicados : MISSAL ( 1893 ) , EVOCAÇÕES ( 1898 ) , FARÓIS ( 1900 ) e ÚLTIMOS SONETOS ( 1905 ) , esses dois últimos póstumos . Procurou relatar em versos a tragédia em que se transformou sua vida : racismo , pobreza , tuberculose , a loucura de sua esposa GAVITA , perdas , abandono , esquecimento  e a obsessão pela cor branca ...........Mudou-se para o clima ameno do interior mineiro para se tratar da tuberculose , em vão ..........Em 19 de março de 1898 , na cidade mineira de Sítio , JOÃO DA CRUZ E SOUZA , O CISNE NEGRO , deu seus últimos suspiros e morria aos 37 anos . Seu corpo veio em um vagão de cargas...........Há alguns anos o governo do Estado  de Santa Catarina prestou um grande reconhecimento ao grande poeta negro  e teria tudo para ser uma grande homenagem , teria.......o que o jornalista LUIZ CARLOS AMORIM relata na crônica de hoje é mais um caso do criminoso desrespeito não apenas com o dinheiro público no Brasil como também com  a cultura . CONFIRA :

"No dia 24 de novembro deste ano de 2014, o maior poeta catarinense de todos os tempos, Cruz e Sousa, completaria 153 anos de nascimento. Para comemorar, a terra onde ele nasceu, Florianópolis (ou Desterro, à época do seu nascimento - ABAIXO , GRAVURA DA ENTÃO DESTERRO NO SÉCULO 19 ),



 não parece ter preparado muita coisa para comemorar. E deveria, para se desculpar pelo reconhecimento que o grande poeta não teve em vida. Mas nada será o bastante para apagar o abandono em que o poeta morreu. 


Aliás, nenhuma homenagem que fosse feita poderia ter lugar no Memorial que leva o nome do poeta, inaugurado em 2010, com atraso, ao lado do Palácio Cruz e Sousa , ( FOTO ABAIXO , ANTIGA SEDE DO GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA  , ENTRE O SÉCULO 18 E 1984 . DESDE 1979 O PALÁCIO CHAMA-SE CRUZ E SOUSA )

 onde estão depositados os restos mortais dele. ( FOTO ABAIXO )

 O local, que foi feito para abrigar eventos culturais, além de não ser apropriado para receber público, porque é muito pequeno, está deteriorado , ( FOTO ABAIXO )

pois ficou fechado desde a sua criação. Foi interditado pelo Deinfra, inclusive, por problemas estruturais.
No início deste ano, o Secretário de Turismo, Esporte e Cultura do Estado prometeu, como tem sido prometido todo ano, que a reforma do Memorial Cruz e Sousa seria entregue a tempo de comemorar mais um aniversário do poeta. E outra vez a promessa não foi cumprida, pois o Palácio Cruz e Sousa está em obras, mas o Memorial está como sempre esteve, abandonado e fechado.
O descaso para com os restos mortais do Cisne Negro ( CHARGE ABAIXO ) é gritante.

 O Estado de Santa Catarina fez questão de reivindicar os despojos do poeta que é o maior patrimônio cultural dos catarinenses, para colocá-lo em um Memorial, que seria construído anexo ao Palácio Cruz e Sousa. A urna com os restos mortais do poeta chegou, mas o tal Memorial demorou mais de dois anos para ser inaugurado. O Estado prometeu um Memorial amplo, com espaço para eventos culturais, mas o seu espaço era tão exíguo que não era possível realizar, absolutamente, nenhuma reunião ali.

Pior: descobriram, depois de todo o tempo que demorou para construir o Memorial , ( FOTO ABAIXO )

 que ele estava em cima da casa de força do Palácio Cruz e Sousa, onde não deveria ter sido construído nenhuma benfeitoria. E o Memorial ficou abandonado, deteriorando no tempo, interditado. Agora esperamos pela ação dos setores competentes (competentes?) do Estado, no sentido de reconstruir o jazigo do grande poeta, de uma vez por todas, com as especificações iniciais, com espaço para eventos, biblioteca, etc., para que possamos, enfim, honrá-lo como ele merece e ele possa, finalmente, descansar em paz.
As promessas se sucedem, mas mais um aniversário do poeta passa sem que o Memorial tenha sido reformado. Que Estado é esse, que não respeita a sua cultura, não honra seus grandes nomes, como o nosso poeta maior Cruz e Sousa, que representa Santa Catarina e o país pela sua arte?
Nosso respeito e nossa admiração por você, grande poeta. Feliz aniversário. De presente, meu poema em sua homenagem: SAUDADE: A poesia Catarina / tem um nome: / Cruz e Sousa. /( GRAVURA ABAIXO )

 A nossa poesia tem cor: / tem a cor da sua pele, / a cor alva dos seus dentes, / tem a cor do seu olhar, / tem a cor da sua alma, / a cor do seu coração; / tem todas as cores. / A poesia tem idade, / a idade da saudade: / mais de século e meio / de saudade do poeta . "

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