segunda-feira, 2 de maio de 2016

Lembrança e Aconchego

Diz a Bíblia no livro de LUCAS , capítulo 15 , versículo 11 : um homem tinha apenas 2 filhos , sendo que um deles após receber a parte da herança a que lhe cabia direito , partiu para um país distante e após levar um vida de mais completa libertinagem perdeu toda a sua fortuna . E o pior : um terrível período de fome castigou a região em que vivia e ele assim passou a viver na mais completa penúria . Passou a trabalhar para um dos moradores da região , cuidando de seus porcos , no entanto continuou a passar necessidades : a lavagem dos porcos que seria o suficiente para matar a sua fome simplesmente lhe foi negada.......Profundamente arrependido e com remorso , ele acabou retornando ao seu antigo lar e ao ver seu pai , correu em direção  a esse , que o abraçou e lhe deu um beijo . Comovido com as palavras e o estado deplorável de seu filho há tanto tempo ausente , eis que o homem chamou os seus servos e lhes disse o seguinte : " Trazei-me depressa a melhor veste e vesti-lha , e pondo-lhe um anel no dedo e calçado nos pés . Trazei também um novilho gordo e matai-o ; comamos e façamos uma festa . Este meu filho estava morto , e reviveu , tinha-se perdido e foi achado . "........Assumidamente religioso - e também supersticioso - o eterno " Rei da Jovem Guarda "  , ROBERTO CARLOS , talvez inspirado pela famosa parábola bíblica do RETORNO DO FILHO PRÓDIGO , cantava no longínquo ano de 1974 , mais especificamente na música O PORTÃO , os seguintes versos : " Fui abrindo a porta devagar , / mas deixei a luz entrar primeiro / Todo meu passado iluminei , q e entrei ..... Meu retrato ainda na parede , / meio amarelado pelo tempo / Como a perguntar por onde andei / e eu falei....... Onde andei não deu para ficar , / porque aqui , / aqui é o meu lugar ....." O BOM FILHO À CASA RETORNA : na crônica que abre o mês de maio , o escritor DONALD MALSCHITZKY  relata uma maravilhosa experiência que teve recentemente em um dos lugares mais encantadores de sua cidade natal , que por si só já é encantadora ( o lugar é o bairro RIO VERMELHO e a cidade é São Bento do Sul ) . Mais uma vez contrariando aquela imagem ranzinza e carrancuda que os seus ácidos e críticos textos dão a entender , Donald nos brinda neste início de mês com uma belíssima história cheia de saudosismo e com direito a palavras líricas em seu desfecho e que mostra o quanto um grupo de pequenos , inocentes e puros seres podem rejuvenescer e tornar mais leve um senhor de 64 anos ( perdão , Donald , por revelarmos a sua idade ! ) .......CONFIRA :

"Semanalmente, subo a serra, rumo a Curitiba ( ABAIXO ) ,

 mas não é a

mesma coisa: na BR 376 ( ABAIXO ) , são mais pistas, mantém-se a velocidade

e,

embora a paisagem seja bonita, não existe aquele aconchego de

nossa serra, a Estrada Dona Francisca. Na Dona Francisca ( ABAIXO ) , as

retas são bem curtas, e já vem uma curva fechada, em que é

preciso prestar atenção para não fazer bobagem.

A paisagem está

mais perto, abraça-nos e nos acompanha a cada metro, e o objetivo

faz parte do trajeto.


Fazia um bom tempo que não passava por essa espécie de

osmose com a estrada ( ABAIXO )  que, de alguma forma, faz parte de mim há

mais de 50 anos.

Na semana passada, rumo a São Bento ( ABAIXO )  para

fazer algo que também há tempo não fazia e que me faz muito bem:

conversar com alunos sobre literatura.


Até chegar à escola, no bairro Rio Vermelho Estação ( ABAIXO ) , mais

curvas e morros.

 E lembranças de rodas de bicicleta tentando

desviar das pedras que pavimentavam a estrada nos tempos de

aventura, em que Rio Vermelho era desafio e balneário para quem

nem sabia que poderia haver perigo no caminho ou na chegada.( ABAIXO , A FAMÍLIA BINEK , UMA DAS FAMÍLIAS PIONEIRAS A SE ESTABELECEREM NA REGIÃO )

 O

vento provocado pela velocidade nas descidas se encarregava de

não deixar as preocupações chegarem perto de nossas mentes.


O asfalto substituiu a pedras na estrada, mas o caminho

continua sinuoso e belo até as parreiras de Theodoro Frick darem

as boas vindas a quem chega ao bairro ( ABAIXO , UMA DAS CASA TÍPICAS DAQUELE REGIÃO ) . Alguma coisa mudou, mas

a atmosfera de paz e proteção continua a mesma.


Em cima do morro, a Escola Emílio Engel e sua Semana

Literária. A escola é uma das muitas que me causam admiração

pela disciplina e participação dos alunos. ( ABAIXO , ALUNOS DAQUELA ESCOLA )

Não há um traço de medo

na disciplina, mas a expressão do gosto de aprender, o costume de

compartilhar, o respeito mútuo como algo natural. ( ABAIXO , ALUNOS DAQUELA ESCOLA EM RECENTE CAMPANHA CONTRA A DENGUE )

A presença de

pais e avós num dia de semana parece totalmente natural para

eles, mas uma agradável surpresa para quem já quase se

acostumou com a falta de participação dos pais ( ABAIXO ) .


Nesse clima, foi muito fácil conversar com eles e compartilhar

a paixão pela literatura, o fascínio pela palavra, a curiosidade pelo

que o intelecto à vezes não conhece, mas a alma ( ABAIXO )  sabe que existe.


Deixar que o rio siga seu caminho, encharque as margens, leve

os barcos da imaginação e reflita os raios de sol ao entardecer,

 não

necessita de esforço quando há barcos ávidos por navegar e olhos

ansiando pelas surpresas do sol no rio.


Depois, voltar, acolhido pelas curvas de lembranças. Voltar

mais leve. "

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