Iniciamos o texto de introdução à primeira crônica desta semana lhe fazendo um desafio : por acaso , alguma vez você já ouviu falar em uma escritora inglesa chamada ALICE POLLOCK ? Caso a resposta seja um sonoro NÃO , ela mais do que natural : a citada escritora ganhou notoriedade não pela sua produção literária , que aliás , resumiu-se a apenas UM LIVRO , mas sim em função justamente da época em que esse único livro foi lançado .......Nascida em 1868 , com o sobrenome de WYKEHAM-MARTIN e na cidade de de Surrey , o seu livro - que tem o título de PORTRAIT OF MY VICTORIAN YOUTH , ou Retrato de Minha Juventude Vitoriana - foi publicado em março de 1971 , quando ela tinha 102 anos e 8 meses de vida ( !!!!!!! ) . Naquele mesmo ano ela acabou falecendo.......Além de ter sido uma impressionante demonstração de vitalidade - mais especificamente mental e intelectual - e longevidade , esse fato demonstrou também que uma pessoa pode ser eternamente jovem , independente da idade que tenha , e que , a exemplo do vinho , quanto mais velha melhor se torna uma pessoa embora , é claro , isso não valha para todos : se de um lado corpo entra em decadência irreversível por outro a pessoa se torna mais madura , equilibrada , ponderada , sábia , experiente e sensata . Soube da tal escritora inglesa por acaso e , portanto , infelizmente não tivemos a oportunidade de ler o seu livro .......Mas só pelo título presumimos que provavelmente deva ser um ótimo livro : quantas fantásticas histórias e experiências de vida ele não traz ? Se infelizmente nos faltam mais informações a respeito da longeva escritora inglesa em compensação poderíamos escrever um vastíssimo texto a respeito de um sujeito chamado DONALD MALSCHITZKY.......
Uma pessoa que não o conheça e que por acaso leia algum de seus textos em tom até ácido há de pensar ser um daqueles sujeitos eternamente ranzinzas e insatisfeitos , porém caso essa mesma pessoa o conheça irá logo mudar de opinião ! Bem Humorado , de sorriso fácil , simpático e amigável , esse cidadão - dono de pontos de vista extremamente críticos , realistas e sinceros - nasceu na bucólica São Bento do Sul em 19 de maio de 1952 e desde a década de 80 é uma das mais destacadas lideranças do meio literário de Joinville e região , sendo um dos mais ativos membros da CONFRARIA DO ESCRITOR DE JOINVILLE e da ASSOCIAÇÃO CONFRARIA DAS LETRAS . Autor de 3 livros - GRAFITE , CABEÇA DE VENTO e FLECHAS - também já prestou relevantes serviços à sua São Bento natal : foi autor de dois livros com valiosíssimos depoimentos resgatando parte da história de sua cidade - PEQUENAS HISTÓRIAS DE SÃO BENTO DO SUL 1 E 2 - e é um dos criadores e organizadores de evento cultural chamado O SEMEADOR . Morador de um dos mais belos recantos do litoral catarinense - BARRA VELHA - atualmente também escreve crônicas para os jornais A GAZETA , de sua cidade natal , e NOTÍCIAS DO DIA e ainda por cima ajuda abrilhanta este modesto blog , com crônicas publicadas ás segundas-feiras . Com toda a experiência e sabedoria característicos de sua idade e do alto de seus 64 anos recém completados , na crônica de hoje ele faz um pequeno balanço de sua vida com muita História , Filosofia e um pouco de poesia........CONFIRA
"Estávamos em Barra do Sul , na casa do Hummler , ainda sem
luz elétrica. Era a segunda vez que eu ia à praia ( ABAIXO , VISTA AÉREA DE BARRA DO SUL ) , e, se não havia luz
elétrica, informação, nem pensar.
De volta a São Bento, o assunto
era a ' Revolução Democrática que evitou que o Brasil se
transformasse em um satélite da União Soviética ' , e havia regozijo
por isso.
Ninguém parecia notar que, apesar de ter sido no dia 1º de
abril, dia da mentira, foi apresentada como um acontecimento do
dia 31 de março de 1964.( ABAIXO , CENA DO LEVANTE QUE INSTAUROU A NADA SAUDOSA DITADURA MILITAR )
Após cinco ditadores militares ( ABAIXO , O PRIMEIRO DOS 5 GENERAIS-PRESIDENTES -DITADORES : O CEARENSE HUMBERTO DE ALENCAR CASTELO BRANCO E A SUA NOTÓRIA E CARACTERÍSTICA FALTA DE QUEIXO ) , três patetas, quatro
presidentes eleitos pelo voto direto, dois vice-presidentes
empossados como presidentes definitivos,
um como interino, um
que sofreu impeachment e outra ( ABAIXO ) com possibilidade de sofrê-lo,
chego eu aos 64, depois de ter também vivido bem de perto a
renúncia de um presidente dos Estados Unidos ( ABAIXO , RICHARD NIXON , PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS ENTRE 1969 E 1974 ) , às voltas com o
fantasma do impeachment.
Isso sem contar um número enorme de
zeros tirados de nossa moeda e várias mudanças de seu nome.( ABAIXO , CÉDULA DE 50 FALECIDOS CRUZADOS NOVOS )
Não creio que dá para dizer que foi um privilégio viver toda
essa turbulência política e econômica, pois ela não foi exatamente
um bem para o Brasil, ( ABAIXO , O JÁ FALECIDO DILSON FUNARO , UM DOS PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS PELO FRACASSADO PLANO CRUZADO , EM 1986 )
mas vivê-la trouxe um enriquecimento que
dificilmente aconteceria se tudo ficasse apenas nas ' margens
plácidas ' . ( ABAIXO , O ENGANOSO E CLÁSSICO QUADRO DE AUTORIA DO PARAIBANO PEDRO AMÉRICO "RETRATANDO " A PROCLAMAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA )
Uma riqueza de vida que não canso de compartilhar e,
muitas vezes, lamentar, embora o lamento maior seja por aqueles
que não viveram esses dias ou se aproveitaram deles e hoje
vociferam julgamentos equivocados.( ABAIXO , MANIFESTAÇÃO PEDINDO A VOLTA DA NADA SAUDOSA DITADURA MILITAR E UMA MANIFESTANTE , DIGAMOS , DESINIBIDA )
E chego aos 64. Amores, filhos, árvores, livros, alegrias
imensas e tristezas que ficaram e ainda doem, e estou em mais um
outono, minha estação do aconchego. ( ABAIXO , DONALD MALSCHITZKY )
Um outono depois que a
tecnologia ultrapassou qualquer previsão de McLuhan, que, nos
anos 60, dizia que o mundo seria uma grande aldeia graças à
tecnologia que tornaria a comunicação instantânea e encurtaria
distâncias,
cá estou a escrever num notebook sequer imaginado
naquela época, e a crônica chega ao jornal em parcos segundos
após ser enviada sem envelope, sem carteiro e sem outro portador
do que certas invisíveis ondas.
Vêm-me os Beatles ( ABAIXO ) , também dos anos 1960, a perguntar :
' Você ainda precisará de mim, ainda me alimentará quando eu
estiver com 64 ? ' ,
e bate uma nostalgia de quando, descalço, pisava
nas folhas das macieiras ( ABAIXO ) na estação de minha infância
e acreditava
que alguém com 60 estava velho, muito velho, já incapaz de
compreender muita coisa.
Respiro fundo e descubro que basta compreender o outono. "
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