quinta-feira, 9 de abril de 2015

Caminhando.......

NOME COMPLETO : Sahelanthropus  Tchadensis ; LOCAL : centro da África ; ALTURA : cerca de 1,30 metro ; PESO : cerca de 30 quilos ; ALIMENTAÇÃO : ovos ; ÉPOCA EM QUE VIVEU : entre 6 e 7 milhões de anos atrás ......O que você acabou de ler é o perfil daquele que talvez tenha sido o nosso antepassado mais remoto . Seus fósseis foram encontrados no que hoje é a República do Tchade ( uma ex-colônia francesa , situada quase ao centro da África ) e foram descritos pela primeira vez em 19 de julho de 2001 pelo antropólogo francês MICHEL BRUNET . Existe uma controvérsia : nem todos os antropólogos o consideram antepassado de nossa espécie mas sim fósseis de uma fêmea de gorila . Controvérsia à parte , existem fortes indícios de que ele era bípede , ou seja , além de ter dado início ao longo processo de evolução que resultou em nossa espécie  também pôde ter dado início a um dos mais vitais e saudáveis hábitos humanos : O DE CAMINHAR . Além de saudável e vital , também dá uma enorme sensação de LIBERDADE : caminhar sem compromisso e sem destino , ao sabor do vento , contemplando a paisagem e a natureza . Na crônica de hoje , HILTON GORRESEN nos convida a uma caminhada imaginária e sentimental por sua memórias , Quer acompanhá-lo ? CONFIRA :

"Sou de uma geração que andava à pé , talvez venha daí a minha obsessão pelas caminhadas .



 Ainda na idade escolar primária me largava sozinho pelo morro de barro com destino ao 'colégio das irmãs ' . Em dias de chuva , paramentado com uma capa de lã preta ,



 acompanhada por uma touca , que lembrava a indumentária do Chapeuzinho Vermelho .

    Havia poucos carros na cidade : uns dois ou três dos mais ricos



 e uma meia dúzia de ' choferes de praça ' . E ainda havia os trolinhos , mais românticos  e divertidos . Era como estar sendo conduzido por uma diligência do velho Oeste , ao lado do condutor , com o suave balanceio das molas do veículo e o trotar do cavalo .



Mas andar de carro , mesmo , só em ocasiões especiais , Quando a família ia à praia de Paulas ( ABAIXO )



 ou quando íamos visitar algum parente no hospital , que ficava em cima do morro . Por isso , eu sempre perguntava à minha mãe :

- Comé , mãe , não tem nenhuma tia doente este mês ?



    Na época do ginásio ( o correspondente ás últimas séries do do primeiro grau ) , que funcionava num prédio escolar na entrada de Ubatuba , nossa condução era a ' carcanha ' ,  como se dizia , ou o 'pé  dois ' . Não se usavam tênis , muita gente andava descalça . Claro , havia as bicicletas , mas nem todos as possuíam .( ABAIXO , DESFILE DE BICICLETAS EM SÃO FRANCISCO DO SUL , NA DÉCADA DE 50 )



 E íamos caminhando , encontrando colegas no trajeto , fazendo brincadeiras , jogando peca nas ruas empoeiradas , tentando dar uma olhada através da  cerca divisória da Ilha da Greta , zona de meretrício que ficava no caminho .

    E íamos desenvolvendo nossa juventude em despretensiosas caminhadas , sem pressa , sema urgência de transpor o portal que nos levaria à responsabilidade de sermos ricos , famosos , poderosos , influentes , sem o que , dizem , nossa vida seria um fracasso .



    Caminhando , auxiliava meu pai . O velho escriturava livros fiscais de pequenos comerciantes , muitos estabelecidos nos bairros , em lugares muito distantes , e lá ia eu buscar notas fiscais e cobrar seus magros rendimentos . Acostumei-me , enquanto caminhava , a pensar e imaginar histórias



nas quais era o valente e romântico mocinho , pretensão que a vida veio me desmentir de modo peremptório . Nas caminhadas eu era Ivanhoé , Robin Hood , Sir Lancelot , Durango Kid ( hoje , talvez  eu seja um Dom Quixote - ABAIXO , HILTON GORRESEN  ) .



 Mas ficou o costume de elaborar minhas frases e parágrafos na mente nas caminhadas diárias . Às vezes , já chego em casa com uma crônica pronta .

    Até quando me for permitido continuar neste mundo , somente peço ter olhos e pernas ; pernas para continuar minha sina de andarilho e olhos para poder apreciar a vida nos caminhos . "


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