terça-feira, 9 de junho de 2015

Talvez Falte Chão

Conquistada por aventureiros espanhóis no início do século 16 , a atual GUATEMALA juntamente com os vizinhos HONDURAS , EL SALVADOR , NICARÁGUA e  COSTA RICA formaram um território chamado de CAPITANIA-GERAL DA GUATEMALA , cuja capital era a Cidade da Guatemala . Em setembro de 1821 , finalmente , após mais de 3 séculos de domínio e opressão espanhóis , a Guatemala juntamente com os seus vizinhos citados há pouco deu o grito de liberdade . Em 1823 , após breve período em que pertenceram ao México , formaram um só país : a REPÚBLICA DAS PROVÍNCIAS UNIDAS DA AMÉRICA CENTRAL . Não deu em nada : em 1838 ,em virtude de vários fatores como diferenças e rivalidades regionais e interesses das elites locais , a tal república acabou deixando de existir . Em 1871 teve início uma infeliz rotina na história do país : OS GOLPES DE ESTADO, algo que aconteceria com frequência até 1985 , além de vários períodos de guerra civil . Outras semelhanças da Guatemala com seus vizinhos latino-americanos , além do clima tropical e das ditaduras tirânicas e tacanhas : a dependência da atividade agrícola ( açúcar , banana e café são seus principais produtos de exportação ) , uma esmagadora maioria católica ( mais de 80 % da população ) e o predomínio político-social e econômico de uma minoria branca , quase toda ela descendente dos antigos colonizadores espanhóis , embora quase metade da população seja indígena e haja também um expressivo número de mestiços . A volta da democracia , em 1985 , não representou o fim da miséria : segundo o IDH ( Índice de Desenvolvimento Humano ) divulgado pela ONU em 2014 , o país aparece num vergonhosa colocação de número 125 , entre 175 países .....

     Como se não bastasse , no país existem vulcões e ele está sujeito a ação de terremotos , sendo que um deles destruiu a sua capital em 1773 . Por tudo o que acabamos de descrever , a Guatemala parece ser mais uma daquelas republiquetas de banana , exceto por um detalhe : uma das mais complexas e fascinantes civilizações do mundo , A DOS MAIAS , teve seu centro em território guatemalteco , embora aquele civilização jamais tivesse tido um líder centro , formado um império e tido uma capital . Boa parte das ruínas maias está na Guatemala e também um número considerável de seus habitantes descende dos antigos maias . Até mesmo uma figura mitológica maia , O QUETZAL , dá nome à moeda do país . Se o Brasil jamais chegou perto de ganhar um PRÊMIO NOBEL , a Guatemala já conseguiu esse feito , através da líder indígena RIGOBERTA MENCHÚ , vencedora do PRÊMIO NOBEL DA PAZ , em 1992 . Na crônica de hoje , além de um relato de sua viagem pelo país , em 2012 , o escritor DONALD MALSCHITZKY relata também um fato que presenciou naquele país . CONFIRA :

"Prédios seculares com suas paredes absurdamente espessas rachadas ou até caídas, inclusive na Universidade San Carlos de Guatemala, ( ABAIXO )



 uma das primeiras da América Latina, oficialmente reconhecida em 1676. Nas ruas, ambulantes da necessidade vendendo comida



 dentro das mais abomináveis medidas de higiene; muita gente morando nas calçadas, em improvisadas barracas, ali mesmo fazendo suas necessidades. Passara um pouco mais de um ano do terremoto mais destrutivo já acontecido no País, com 23 mil mortos. As ruínas maias ( ABAIXO ) não foram afetadas.




Em Quetzaltenango (ABAIXO - lugar de abundância de quetzais – o quetzal é o pássaro símbolo da Guatemala -), a uns 160 km da Capital,

 no meio do imenso mercado a céu aberto, uma pequena igreja antiga, toda branca e mantida em pé graças a escoras de  troncos de árvores que a cercavam. Seu chão parecia ser formado por estrelas, tamanho o número de velas acesas, a única iluminação.

 No meio delas, homens e mulheres indígenas, cada um segurando  instrumento feito de uma lata furada presa a cordas, fazendo as vezes de turíbulo. Nas latas, brasas e uma mistura de folhas. Oravam em sua língua e caminhavam entre as velas, movendo seus turíbulos em longos arcos. Eram senhores das nuvens. Surreal, belo, tocante, primitivo. Nas orações, mais do que pedir,

 cobravam pelos pedidos feitos e não atendidos: pela vaca que acabou morrendo, a lavoura que não produziu, o filho que não se curou. Sinceros, sem qualquer hipocrisia.

Esse quadro pleno de simplicidade e poesia é de um contraste brutal  com outro com o qual nos deparamos diariamente: a intolerância religiosa e o uso de Deus e do diabo

 para fins que, muito mais, servem ao segundo. Muitos, mesmo bem intencionados, com fé e uma vida exemplar, são levados a condenar qualquer manifestação religiosa diferente da que professam, qualquer cerimônia que não segue os estreitos cânones a que estão acostumados, e chamam o sincretismo de coisa do capeta, ( ABAIXO , PASTOR SILAS MALAFAIA )

esquecendo que todas as religiões  têm um pé no sincretismo, embora o neguem de mãos juntas. Fazem da fé,  sinônimo de intolerância. ( ABAIXO , DEPUTADO FEDERAL MARCO FELICIANO , CONHECIDO POR SUAS DECLARAÇÕES DE CARÁTER HOMOFÓBICO )


Talvez lhes falte um chão de estrelas bem simples e primitivo. Puro. 

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