terça-feira, 29 de julho de 2014

Mestre e Aprendiz

De uma pequena fábrica de pentes e leques , situada no bairro Anita Garibaldi , a modesta Companhia Hansen Industrial transformou-se na multinacional TIGRE  ; a TUPI , de uma modesta fábrica situada no centro da cidade não só se transformou em uma grande empresa como também mudou completamente o então isolado bairro do Boa Vista  . As breves histórias das duas maiores empresas de Joinville  simbolizam o arrojo e empreendendorismo que sempre caracterizaram a história da cidade . Não apenas o setor econômico mas também o setor cultural da cidade é cheio desses personagens visionários e arrojados  , tendo como dois exemplos ALBERTINA TUMA FERRAZ , a grande idealizadora do FESTIVAL DE DANÇA e muito antes dela LISELOTTE TRINKS ( 1914-1987)  , plantou sua semente . E é sobre LISELOTTE TRINKS , essa personagem tão pouco lembrada na história da cultura da cidade , que o escritor , jornalista e produtor cultural JOEL GEHLEN comenta na crônica de hoje . CONFIRA :

"Mesmo quando só havia a ' mata hostil ' e só havia o básico da sobrevivência , Joinville não se descuidou do ' pão do espírito'  . ( ABAIXO , DUAS FOTOS ANTIGAS DE JOINVILLE . A PRIMEIRA É DE 1913 E A OUTRA É DE 1926 )





Assim como os cereais os imigrantes transplantaram as sementes da música , canto ,  teatro , dança  e da literatura . Esse foi berço e ribalta de Liselotte Trinks  , que hoje faz com que nos voltemos para seu século de vida , redimensionando seu legado e lugar na história .

 Há muitas perguntas ainda , mas das respostas surge uma mulher sensível , enigmática , profundamente tocada pela  inquietude  da elaboração artística . E cada decifração que se faz suscita novas indagações . Perguntas e respostas mais e mais projetam a grandeza dessa figura  que ousou cultivar um espírito livre  ,



 sendo mulher , e sendo artista num Brasil  confinado ao cotidiano da província . Alheias às nossas vontades , as névoas da incerteza se dissipam como a bruma nas manhãs de inverno  ,



 ao saber do vento e na direção da luz . Surpreendente nesta paisagem é que estivesse oculta tanta grandeza  , quando deveria ter sido notória .

 Liselotte aprendeu os rudimentos de dança  ainda na escola da infância , mas foi uma autodidata disciplinada ao longo de toda a vida  . Estudou nos livros e buscou referências em espetáculos , fosse na Alemanha dos anos 20 ou no festival de Parintins . Plena de sensibilidade , compreendeu ainda em seu nascedouro os novos caminhos da dança expressionista propostos por Mary Wigman  . ( FOTO ABAIXO , COREÓGRAFA ALEMÃ CONSIDERADA UMA DAS CRIADORAS DA DANÇA MODERNA E DA  DANÇATERAPIA )



 Movida pelo instinto dos pioneiros , passou a praticar em Joinville  uma dança baseada na expressão dos movimentos , ensinando e montando espetáculos  ,  dentro  de uma vanguarda até então desconhecida em Santa Catarina , e muito provavelmente  , no Brasil . ( ABAIXO , MARY WIGMAN  ORIENTANDO SUAS ALUNAS )



 Foi uma mulher muito à frente de seu tempo  , tanto pelos enredos de ficção que criou para  os palcos , quanto pelas tramas enredadas ao longo da vida . Foi uma operária das artes , ( ABAIXO , FOTO DE LISELOTTE TRINKS )



fazendo a síntese improvável do feijão e do sonho , tornando a paixão em seu ofício e ganha pão . Mestre generosa e paciente , disseminou o ensino de bailados em Joinville , Itajaí , São Francisco do Sul e Jaraguá . Seus escritos traduzem uma permanente imersão na poesia e filosofia , transcendendo a angústia terrena em criações artísticas que hão de justificá-la para além de seu tempo já secular . "

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