Ah , essa minha já velha mania de querer saber as origens e os significados dos nomes e das palavras ! Acordei hoje com um nome e uma palavra martelando a minha cabeça : PETRÔNIO e POESIA .....Quer embarcar comigo em mais uma viagem histórico-etimológica ? Opa ! Beleza ! Então embarque aí , que lá vamos nós ! De onde vem o nome PETRÔNIO ? Ele é de origem romana e significa " POETA PENSADOR " . Você que está se aventurando a ler estas mal escritas linhas é supersticioso , ou supersticiosa ? Então veja o que a NUMEROLOGIA tem a dizer a respeito desse nome : " Apegado às coisas materiais ( isso não o impede de ter afeição pelo amor e pela afeição ) , tem como pontos positivos , a organização , a disciplina , a organização , a confiança em si mesmo e o fato de também ser trabalhador , construtor , estável e honesto . Tem como pontos negativos o fato de ser rígido , crítico e metódico demais , inseguro , controlador e um tanto conformista " .....E da onde vem essa palavra tão bela e que atende pelo nome de POESIA ? Assim como muitos termos da língua portuguesa , ela tem origem grega e 3 significados : " Fazer , criar , compor " . Agora veja o que um dos meus colegas e amigos - o DICIONÁRIO AURÉLIO - tem a "dizer " a respeito da palavra POESIA : " 1 - Arte de escrever em verso , 2 - Composição poética de pouca extensão , 3 - Entusiasmo criador , 4 - Encanto , graça " . E o que seria um POETA , Aurélio ? " 1 - O que tem faculdades poéticas e se consagra à poesia , 2 - O que tem imaginação inspirada " ......Talvez tenha passado o seguinte pensamento aí em vossa cabeça : " Esse cara está fazendo esse rodeio todo para contar a história de algum desses poetas das antigas " . Não , muito pelo contrário ! O ano é 1998 , a época do ano é mais ou menos setembro ou outubro e o cenário é o colégio Elias Moreira : todos nós , quase todos na faixa dos 17-18 anos estávamos no último ano do segundo grau e , portanto , nos preparávamos para encarar o temível VESTIBULAR e , em tal condição , vivendo a famosa e irritante TENSÃO PRÉ-VESTIBULAR . Lembro-me disso como se fosse ontem : era aula de Português e nossa professora -BERENICE ZABOT GARCIA - começou a falar a respeito de vários poetas de destaque da literatura tupiniquim e até chegou a recitar versos do poema de um deles ( não me recordo qual ) . O cara que sentava atrás de mim , e que por sinal se chamava PETRÔNIO Pereira , não estava gostando nada daquilo e chegou a dizer - não me recordo exatamente as palavras que disse e sem que a professora ouvisse - que aquilo tudo era " uma besteira " , " uma bobajada " , " uma perda de tempo " ......
Como já havia comentado anteriormente , sou CÉTICO e AGNÓSTICO mas esse mesmo cara - que ironicamente tinha a POESIA em seu nome - coincidentemente tinha muitas das características que expus ainda há pouco com relação ao significado e origem do seu nome : não muito simpático e também de não muitas palavras , era pragmático , de ir direto ao ponto sem rodeios ( uma de suas paixões era a Matemática ) e era fã de HIP-HOP e HARD CORE , o popular "rock pauleira" ( com certeza , com trinta e tatos anos , o seu gosto musical já deve ter ficado mais refinado ) ......Caramba ! Por acaso , o Hip-Hop não é a veia - POÉTICA - dos marginalizados , dos excluídos da sociedade e que em seus versos nus e crus mostram o lado nada glamouroso desta mesma sociedade ? Agora pense naquela música que você adora (estou falando de música de verdade e não isso aí que se faz hoje em dia e que dizem ser música ).....Pensou ? Que belíssimo gosto o seu , hein ? Pois é , as letras dela não são uma POESIA ? Agora veja os seguintes versos : " Faz a imaginação de um bem amado / Que nele se transforme um peito amante ; / Daqui vem que a minha alma delirante / Se não distingue já do meu cuidado " .....Não , não se trata de algum sujeito completamente alienado do mundo e perdidamente apaixonado por sua amada mas sim de uma FIGURA HISTÓRICA : considerado o pioneiro de um gênero literário conhecido como ARCADISMO ( uma de suas características são as imagens de paisagens bucólicas ) , no Brasil , CLÁUDIO MANUEL DA COSTA ( 1729-1789 ) foi advogado , juiz , participante da INCONFIDÊNCIA MINEIRA e , caso esse movimento fosse vitorioso , seria o redator da primeira Constituição do Brasil . Em outras palavras : o poeta não é um alienígena completamente fora do mundo e da realidade mas também um sujeito que participa e ajuda a transformar a sociedade . Além de estar presente em nossas vidas , a poesia ajuda a tornar o planeta um pouco mais agradável e menos cinzento ......Como também já comentei em outra oportunidade , há mais de 3 anos e mesmo apanhando das palavras faço força para trata-las com delicadeza . Portanto , diante de minhas limitações , deixo-os agora com um especialista quando o tema é POESIA : o poeta joinvilense - atualmente radicado na cidade baiana de São Félix - RUBENS DA CUNHA , que comenta no texto a seguir a respeito da importância dessa coisa tão mágica chamada POESIA .....CONFIRA :
"Qual seria a função, o motivo para a existência de um poema nos dias de hoje ?
E o poeta ? ...( ABAIXO , UM DOS REIS DA POESIA TUPINIQUIM : CASTRO ALVES )
Esse ser tão cheio de predicados atribuídos pelo senso comum : o sofredor, o apaixonado ( ABAIXO ) , o infeliz, o sensível.
Para que poetas nesses dias de agora, tão despoetizados de tudo ?
Talvez os poetas existam apenas para repetir os fantasmas de um ideal perdido, do ideal massacrado pelas guerras mundiais,
pelas cultura de massa, pelo império do descartável sob o qual está sustentada a religião capitalista, como diria Walter Benjamim ( ABAIXO - ESCRITOR , POETA , FILÓSOFO E ENSAÍSTA ALEMÃO ) .
No século XIX, essas eram questões que afligiam os poetas, mas eles foram os últimos que tiveram um elemento que se extinguiu no século XX : o poeta guia, cujos arquétipos foram gente como Victor Hugo ( ABAIXO ) ou Walter Whitman. Tal poeta era uma figura de vanguarda, ia à frente com a função de ser uma espécie de despertar dos povos, do progresso, da liberdade. No final do século esse modelo já estava obsoleto, encontrando a sua ruína no século XX.
O século XX com toda a sua evolução e a sua barbárie funda, na linhagem de Mallarmé, uma outra figura: o poeta como uma exceção secreta, mas atuante.
É como se o poeta fosse o reservatório de um pensamento perdido. O poeta torna-se o protetor da língua, ou como diz Heidegger, o ' guardião do Aberto ' . ( ABAIXO , O GRANDE POETA MINEIRO CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE )
Dessa forma, o poeta muda a sua função, de poeta-guia passa a ser um poeta-vigia, poeta que monta guarda contra o extravio, o poeta capaz de fazer com que a língua mantivesse o poder de nomear o impossível, pois ele está no umbral, está naquele espaço de espera. ( ABAIXO , OUTRO GÊNIO DA POESIA TUPINIQUIM : O GAÚCHO MÁRIO QUINTANA )
Espaço que não precisa mais guiar, mas vigiar, no máximo avisar o que está acontecendo. O que a arte fez no século XX foi, basicamente, isso: avisou sobre o caos, a catástrofe, a violência e a morte, tanto do velho conceito de Deus ( ABAIXO ) , quanto do velho conceito de homem.
Tudo se derruiu após os contínuos genocídios que foram perpetrados no século XX. O sentido, aquele confortável sentido que marcou o século XIX, já não existe mais. O que temos é um mundo levantado na superfície, e sustentado no vazio, no descartável.
Essa visão não se trata de desesperança, mas de percepção do estado em que chegamos.
Basta olhar o que os poetas vigias nos anunciam. Para isso ainda existe a corneta da arte, nos avisando do perigo que nos cerca, nos dizendo que a forma mais corajosa de pensarmos é a forma nietzschiana ( ABAIXO , O FILÓSOFO ALEMÃO FRIEDRICH NIETSZCHE ) , intempestiva, virulenta, dionisíaca.
Precisamos, cada vez mais, enfrentarmos a inércia, a indiferença que nos marca. Já estamos no século XXI, o que acontecerá aos poetas é um mistério, que função exercerão esses seres milenarmente estranhos, não sabemos. ( ABAIXO , O SAUDOSO "POETINHA " : O TAMBÉM COMPOSITOR VINÍCIUS DE MORAES )
Talvez a pergunta que moverá o século XXI seja justamente o que fazer com a ruína que sobrou do século XX ? ( ABAIXO , EM RUA NA CHINA )
Reconstruir e reconstruir-se a partir dos restos, ou continuar a lamentação continua dos arruinados. A resposta está sendo dada pelos poetas-vigias.
Basta lê-los. "
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