A banda fazia um tipo de som que misturava rock ´n roll , o caraterístico rock psicodélico dos anos 60 , o blues e ainda um rock típico da Holanda , o NEDERBEAT e após sua dissolução Mariska teve uma carreira solo relativamente bem sucedida mas no início daquele ano de 2006 estava totalmente irreconhecível e obesa embora seus maravilhosos olhos azuis permanecessem brilhantes e cheios de vida ......Em agosto gravou uma interessantíssima versão , em ritmo de jazz , da clássica Vênus ( que , por sinal está no vídeo que comentei no início deste texto ) , só que essa infelizmente seria a derradeira demonstração de seu talento : em 2 de dezembro , derrotada por um câncer e aos 59 anos , completados 2 meses antes ( nasceu em Haia , uma das capitais da Holanda , em 1947 ) , Mariska deu seus últimos suspiros , ou melhor , seus últimas notas musicais na Terra e foi fazer seus show no céu......Pouco antes de falecer , em entrevista para a revista belga FLAIR e uma atitude nobre , fez uma auto crítica : " Eu era apenas uma boneca pintada , ninguém podia nem chegar em mim . Atualmente estou mais aberta às pessoas " . Da pequenez de nossa mediocridade humana fica difícil compreender o fim de vida tão prematuro de uma pessoa tão talentosa , que encheu milhões de pessoas de alegria com esse mesmo talento e que ainda teve a rara e nobre atitude de admitir e reconhecer uma de suas falhas . Se já é difícil compreender a morte , bem antes do tempo , de uma quase desconhecida artista da distante e fria Holanda imagine a árdua e ingrata atarefa de tentar compreender a morte prematura de algum amigo ou ente querido ! Há alguns dias atrás o escritor , agitador cultural , consultor empresarial e colaborador do ALAMEDA CULTURAL , DONALD MALSCHITZKY , teve esse dissabor e na crônica de hoje relembra o amigo , que partiu aos 46 anos de idade ......Uma crônica triste , melancólica , fúnebre , bem "down " ? Não , nada disso : inspirado e emocionado , Donald escreveu um verdadeiro poema , que , com certeza , deixaria orgulhoso e feliz seu saudoso amigo ! CONFIRA :
" ' A Ivana ligou duas vezes ' , avisou-me a Cida ( ABAIXO , TRATA-SE DA ESPOSA DE DONALD ) , pedindo para
interromper a reunião, ' e a Lu postou que o anjo nadador os
deixou ' , complementou. O inacreditável apossou-se de mim : ' O
Luke morreu ' .
Em minutos, a confirmação, e sobreveio aquela dor ( ABAIXO )
que normalmente não faz parte da escala de dores: a dor de amigo,
aquela que nos cobre de impotência por não sabermos o que fazer,
como ser ao menos parte, não de consolo, pois isso não há, mas de
algo como ' ponte sobre águas turbulentas ' , da canção que me
acompanha há décadas. ( ABAIXO , DONALD )
Paira a sensação de opressão de uma realidade que se
deseja negar. Luciana, poeta, corajosa, idealista, sorridente
e
sempre pronta, como estará ? E o Pedrinho, com seus três e tantos
anos ?
Deve haver alguma razão para pessoas especiais morrerem
cedo, talvez por terem preenchido todos seus espaços de bondade ( ABAIXO )
ou de alegria de viver.
Quem sabe por serem homens meninos – ou
mulheres meninas, mas agora falo do amigo – e carregarem seu
destino.
Homem menino é o que sempre me pareceu o Luke ; sorria
facilmente ( ABAIXO ) , ouvia mais do que falava e, visivelmente, aspergia
felicidade sobre a família e os amigos.
Sem estardalhaço, com cara
de menino; um menino que nadou muitas águas, sentiu muitos
orgulhos, superou tristezas e, bem, sorriu.
Sorria nos aplausos às
declamações e canções da Lu, sorriu de orgulho e felicidade no dia
em que carregou o Pedrinho no colo, no meio do salão lotado, o
filho segurando uma pandorga
feita pelo pai para dar mais emoção
à declamação da mãe no ' Semeador ' ( ABAIXO , DONALD , DURANTE ESSE EVENTO QUE OCORRE ANUALMENTE NA SOCIEDADE BANDEIRANTES , EM SÃO BENTO DO SUL ) , sorriu na última vez em que o
vi, Pedrinho sentado em seu colo.
Somos moldados pela genética e pela história, e a história nos
molda pelo exemplo, por isso Pedrinho seguirá firme, pois, embora
bem pequeno, tem colado a si o exemplo do pai que partiu cedo e
da mãe ( ABAIXO ) com sua meiga firmeza.
Quando soltar uma pandorga, de
alguma forma, a alma do pai ( ABAIXO ) a soltará com ele, a lembrar daquela
que fez à noite, com painas do terreno vizinho.
Estará nas gotas de
mar espirradas pelas ondas, nas pegadas, nas ondas reais e
imaginárias que enfrentará.
Nos poemas da mãe, nos livros da
casa, nos lugares que descobrirá e nos segredos que desvendará,
porque, quando se tem um pai que é homem menino, mesmo
quando ele é levado, a vida é sempre um sorriso,
até quando o
sorriso for usado como arma contra as tristezas todas.
Agora é tempo de Lu, Pedrinho, mãe, irmã, parentes e amigos
embalarem sua tristeza, porque é preciso, até que elas se tornem
doces lembranças pelo que veio antes da saudade . "
Nenhum comentário:
Postar um comentário