terça-feira, 1 de novembro de 2016

Vá Em Paz , Amigo !

Se existe algo SAGRADO para este escriba são as caminhadas noturnas aqui pelas redondezas . Pois ontem à noite , pouco antes de uma dessas caminhadas e quase desligando este computador "velho de guerra " , assisti um vídeo que chamou muito a minha atenção : trata-se de um vídeo-homenagem de um fã para uma cantora holandesa já falecida . Com certeza você jamais ouviu falar nela e o seu nome esquisito também não ajuda muito : MARISKA VERES ( isto não é um erro de digitação ! ) ....Ela pode ser uma ilustríssima desconhecida mas provavelmente milhões de pessoas  , em boa parte do planeta , já a ouviram : a frente da banda holandesa SHOCKING BLUE e no ano de 1969 , alcançou a consagração com o mega sucesso " VÊNUS " , que de tão icônica tornou-se uma das músicas-símbolo da tão maluca , agitada e revolucionária década de 60 .  A entrada na banda , em 1968 e em lugar do antigo vocalista , FRED DE WILDE , dessa morena estonteante , de olhos azuis , voz forte e rouca e jeito independente e decidido , não apenas representou um fato infelizmente ainda tão difícil nos dias atuais - uma mulher a frente de uma banda de rock - mas o início do merecido coroamento de uma carreira iniciada com apenas  16 anos de idade ......Típico fruto da mistura de povos ( seu pai era um cigano húngaro e sua mãe era uma alemã filha de pai francês e mãe russa ) e membro de uma família de músicos ( seu pai era violinista e uma de suas irmãs era pianista ) , perambulou por 6 bandas de rock e chegou a gravar , em 1964 , um disco de apenas 2 músicas até o ACASO dar parecer em sua vida : o empresário da banda Shocking Blue a conheceu em uma festa , ficou maravilhado com sua voz e a convidou para entrar na banda . Bendito empresário ! Entre 1969 e 1974 - quando a banda foi desfeita ( ela ainda retornaria , por várias vezes e breves períodos )  - ,  gravou 10 discos , colecionou sucessos  - não tão estrondosos quanto " Vênus " , é verdade - , como " Might Joe " , " Send Me A Postcard " , " Never Marry A Railroad Man " , " Blossom Lady " e " Inkpot " , conquistou prestígio em boa parte da Europa , Japão e Estados Unidos .

     A banda fazia  um tipo de som que misturava rock ´n roll , o caraterístico rock psicodélico dos anos 60 , o blues e ainda um rock típico da Holanda , o NEDERBEAT e após sua dissolução  Mariska teve uma carreira solo relativamente bem sucedida mas no início daquele ano de 2006 estava totalmente irreconhecível e obesa embora seus maravilhosos olhos azuis permanecessem brilhantes e cheios de vida ......Em agosto gravou uma interessantíssima versão , em ritmo de jazz , da clássica Vênus ( que , por sinal está no vídeo que comentei no início deste texto ) , só que essa infelizmente seria a derradeira demonstração de seu talento : em 2 de dezembro , derrotada por um câncer e aos 59 anos , completados 2 meses antes ( nasceu em Haia , uma das capitais da Holanda , em 1947 ) ,  Mariska deu seus últimos suspiros , ou melhor , seus últimas notas musicais na Terra e foi fazer seus show no céu......Pouco antes de falecer , em entrevista para a revista belga FLAIR  e uma atitude  nobre , fez uma auto crítica : " Eu era apenas uma boneca pintada , ninguém podia nem chegar em mim . Atualmente estou mais aberta às pessoas " . Da pequenez de nossa mediocridade humana fica difícil compreender o fim de vida tão prematuro de uma pessoa tão talentosa , que encheu milhões de pessoas de alegria com esse mesmo talento e que ainda teve a rara e nobre atitude de admitir e reconhecer uma de suas falhas . Se já é difícil compreender a morte , bem antes do tempo , de uma quase desconhecida artista da distante e fria Holanda imagine a árdua e ingrata atarefa de tentar compreender a morte prematura de algum amigo ou ente querido ! Há alguns dias atrás o escritor , agitador cultural , consultor empresarial e colaborador do ALAMEDA CULTURAL , DONALD MALSCHITZKY , teve esse dissabor e na crônica de hoje relembra o amigo , que partiu aos  46 anos de idade ......Uma crônica triste , melancólica , fúnebre , bem "down " ? Não , nada disso : inspirado e emocionado , Donald escreveu um verdadeiro poema , que , com certeza , deixaria orgulhoso e feliz seu saudoso amigo ! CONFIRA : 

" ' A Ivana ligou duas vezes ' , avisou-me a Cida ( ABAIXO , TRATA-SE DA ESPOSA  DE DONALD ) , pedindo para

interromper a reunião, ' e a Lu postou que o anjo nadador os

deixou ' , complementou. O inacreditável apossou-se de mim : ' O

Luke morreu ' .

Em minutos, a confirmação, e sobreveio aquela dor ( ABAIXO )

que normalmente não faz parte da escala de dores: a dor de amigo,

aquela que nos cobre de impotência por não sabermos o que fazer,


como ser ao menos parte, não de consolo, pois isso não há, mas de

algo como ' ponte sobre águas turbulentas ' , da canção que me

acompanha há décadas. ( ABAIXO , DONALD )



Paira a sensação de opressão de uma realidade que se

deseja negar. Luciana, poeta, corajosa, idealista, sorridente

 e

sempre pronta, como estará ? E o Pedrinho, com seus três e tantos

anos ?


Deve haver alguma razão para pessoas especiais morrerem

cedo, talvez por terem preenchido todos seus espaços de bondade ( ABAIXO )

ou de alegria de viver.

 Quem sabe por serem homens meninos – ou

mulheres meninas, mas agora falo do amigo – e carregarem seu

destino.


Homem menino é o que sempre me pareceu o Luke ; sorria

facilmente ( ABAIXO ) , ouvia mais do que falava e, visivelmente, aspergia

felicidade sobre a família e os amigos.

Sem estardalhaço, com cara

de menino; um menino que nadou muitas águas, sentiu muitos

orgulhos, superou tristezas e, bem, sorriu.

Sorria nos aplausos às

declamações e canções da Lu, sorriu de orgulho e felicidade no dia

em que carregou o Pedrinho no colo, no meio do salão lotado, o

filho segurando uma pandorga

 feita pelo pai para dar mais emoção

à declamação da mãe no ' Semeador '  ( ABAIXO , DONALD , DURANTE ESSE EVENTO QUE OCORRE ANUALMENTE NA SOCIEDADE BANDEIRANTES , EM SÃO BENTO DO SUL )  , sorriu na última vez em que o

vi, Pedrinho sentado em seu colo.


Somos moldados pela genética e pela história, e a história nos

molda pelo exemplo, por isso Pedrinho seguirá firme, pois, embora

bem pequeno, tem colado a si o exemplo do pai que partiu cedo e

da mãe ( ABAIXO ) com sua meiga firmeza.

 Quando soltar uma pandorga, de

alguma forma, a alma do pai  ( ABAIXO ) a soltará com ele, a lembrar daquela

que fez à noite, com painas do terreno vizinho.

 Estará nas gotas de

mar espirradas pelas ondas, nas pegadas, nas ondas reais e

imaginárias que enfrentará.

Nos poemas da mãe, nos livros da

casa, nos lugares que descobrirá e nos segredos que desvendará,

porque, quando se tem um pai que é homem menino, mesmo

quando ele é levado, a vida é sempre um sorriso,


até quando o

sorriso for usado como arma contra as tristezas todas.

Agora é tempo de Lu, Pedrinho, mãe, irmã, parentes e amigos

embalarem sua tristeza, porque é preciso, até que elas se tornem

doces lembranças pelo que veio antes da saudade . "

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