terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Levante A Cabeça , Irmão !

Era apenas um povoado , na verdade algo pouco maior do que uma clareira , perdido no meio da mata , em uma região de clima quente e úmido , onde praticamente tudo ainda estava por se fazer e , que apesar de todas as precariedades e de seu quase isolamento , já dava sinais - bastante tímidos e remotos , é verdade - de que um dia viria a ser uma metrópole . Preocupados apenas em sobreviver e envolvidos com a duríssima batalha de lidar com um tipo de ambiente e clima completamente diferentes dos de suas pátrias de origem , é até muito provável que aquele punhado de pessoas - menos de 2.000 e quase todas , estrangeiras - sequer imaginasse que esse mesmo lugar onde viviam estava prestes a ser cenário de um fato histórico , especialmente na história do jornalismo tupiniquim , para ser mais específico .....A não ser aquela valiosa carga que estava a bordo , nada indicava algo diferente : assim como tornara-se uma rotina , desde março de 1851 e a exemplo de dezenas de navios que haviam chegado desde então , a já bicentenária cidade de São Francisca do Sul estava prestes a receber mais uma navio trazendo a bordo um grupo de pessoas oriundas da fria e distante Europa e seus sonhos , esperanças , ilusões , desejos ......O navio veleiro " FRANCISCA " , que saíra do porto de Hamburgo em 22 de julho de 1858 e cujo capitão era um certo Tiedmann , trazia a bordo 49 esperançosos imigrantes , sendo que 29 deles eram oriundos do reino da PRÚSSIA , país que até ali havia enviado o maior número de imigrantes para a então colônia Dona Francisca e que em 1871 , se juntaria a muitos outros para formar a Alemanha moderna . Porém nem todos os que estavam a bordo falavam a língua de Goethe , Beethoven , Einsten , entre outros gênios da artes , da Filosofia e das ciências : oito daquelas 49 pessoas eram FRANCESAS ( também estavam a bordo imigrantes de mais 6 nações , todas elas de língua e cultura alemãs : Meckelemburg , Saxônia , Hessem , Hannover , Hamburgo , Luebeck e o ainda o ducado dinamarquês de Holstein ) . As nacionalidades poderiam ser distintas mas o desejo , praticamente sagrado era o mesmo : COMEÇAR UMA NOVA VIDA NA PÁTRIA QUE OS ESTAVA ACOLHENDO .....No entanto , o que era para ser o início de um sonho , e também um dia histórico , - 21 DE SETEMBRO DE 1858 - transformou-se de repente em um TERRÍVEL PESADELO : o navio chocou-se com um banco de areia movediça , localizado logo na entrada da baía da Babitonga e conhecido como SUMIDOURO e acabou naufragando , infelizmente com 3 pessoas tendo perdido a vida ( consta que uma moça foi salva por um homem , que a puxou pelos cabelos , e um homem foi salvo por um cão ....) e todos os objetos que estavam sendo transportados à bordo , como vestidos , louças artesanais , tecidos de algodão , vinhos , couros  tecidos de veludo e lã , móveis e até mesmo um piano de cauda , também acabaram sendo perdidos e entre esses objetos estava o maquinário que seria necessário para se imprimir O PRIMEIRO JORNAL DE JOINVILLE .....Morria ali um velho sonho do primeiro " faz-tudo " e visionário de Joinville : o advogado , político , funcionário da Sociedade Hamburguesa , agitador cultural , escritor e líder comunitário OTTOKAR DOERFFEL ( 1818- 1906 )  .......Na verdade não chegava a ser algo novo : em fins de 1852 o imigrante KARL KONSTANTIN KNUEPPEL ( 1819-1895 ; ele nasceu na cidade de Linne , no então reino da Prússia e que hoje faz parte da Polônia ) , que havia vindo a bordo do veleiro " NEPTUN " - aportado em São Francisco em 12 de dezembro de 1851 - , tinha  dado início a publicação do DER BEOCHTER AM MATHIASSTROM , ou " O Observador Às Margens Do Rio Mathias " . Feito em papel de carta duplo , custava o equivalente a 120 réis - a moeda brasileira da época - e , embora tivesse uma tiragem de apenas 50 exemplares , era disputadíssimo pelos moradores da colônia : a linguagem dos textos - muitíssimo ágil para a época - eram um misto de crítica ,sarcasmo , ironia e até bom humor ( o próprio nome já era um ironia : na língua alemã o correto seria chamar e escrever um riozinho como o Mathias de BACH e não de STROM , ou FLUSS ) , sendo na verdade um informativo em estilo panfletário - e de vida curta ( circulou até 1855 ) - do que propriamente um jornal nos moldes que conhecemos . Em virtude da tragédia que aconteceu naquele fatídico 21 de setembro de 1858 , dos precários meios de locomoção e comunicação da época e do próprio tamanho e quase isolamento da Joinville da época , Ottokar Doerffel poderia simplesmente ter se conformado e desistido de seu sonho , afinal , " quando não é para algo acontecer ele não acontece " mas , felizmente , não foi isso o que aconteceu......
 
         Está certo que houve uma padrinho forte - por intermédio do então embaixador suíço J.J VON TSCHUDI , que havia visitado Joinville em 1861 e tornou-se um grande entusiasta do projeto de Doerffel , o então ministro da Agricultura , Comércio e Obras Públicas , o alagoano João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu , liberou a verba necessária para que o tão sonhado jornal se tornasse uma realidade - mas naquilo que é um misto de filosofia poética com sabedoria popular , ' QUANDO SE QUER REALMENTE ALGUMA COISA , O UNIVERSO CONSPIRA A FAVOR ".....Em 20 de dezembro de 1862 , ou 4 anos e 3 meses após a tragédia com o " Francisca " , o "KOLONIE ZEITUNG", ou " Jornal da Colônia " ,  circulava pela primeira vez , sendo o sexto jornal em alemã do Brasil ( o primeiro foi o "DER KOLONIST " , ou "O COLONO " , que circulou na cidade de Porto Alegre entre os anos de 1852 e 1853 ) e também o jornal brasileiro em língua alemã que durou mais tempo : praticamente 80 anos , tendo circulado pela última vez em 21 de maio de 1942 , época em que em função da Segunda Guerra Mundial já era publicado em português e tinha o nome  de " Correio de Dona Francisca " desde 2 de setembro do ano anterior ( em outra ocasião - entre 6 de novembro de 1917 e 26 de agosto de 1919 o jornal já havia sido publicado em português , com o nome de " ACTUALIDADE " ) . Engana-se quem pensa que o jornal se resumia a Joinville : ele também circulava em localidades e cidades vizinhas e durante certo tempo foi o ÚNICO JORNAL  a circular na cidade de Blumenau e região ,sendo quase tão lido quanto a BÍBLIA ! Mais do que um veículo de informação e um dos mais valiosos e fieis registros de Joinville em suas primeiras décadas , o " Kolonie Zeitung " foi aquilo que eu chamaria de DIÁRIO COLETIVO , expressando as lutas , dores , fracassos , vitórias , risos , lágrimas , pioneirismos , curiosidades , críticas , revoltas e questionamentos daqueles que literalmente deram a vida para que Joinville viesse a ser o que é hoje !......Mas , afinal , por que estou relembrado históricas antigas bem do fundo do baú , ou "do tempo do epa " - usando um termo do mais legítimo "JOINVILÊS " - se faço isso todas às quartas-feiras ? Bom , confesso a você que a princípio minha ideia era bordar outro tema neste texto de introdução mas em virtude de mais dos muitos " presentes de grego " que 2016 nos deu , tive de mudar de plano : como é sabido , lamentavelmente e depois de pouco mais de 10 anos de circulação , o jornal " NOTÍCIAS DO DIA " deixou de circular em Joinville ......Os mais realistas dirão que o jornal já estava marcado para morrer : em função da popularização e difusão da INTERNET , os velhos veículos jornalísticos impressos , como revistas e jornais , estão caminhando para a inevitável extinção , sem ter a mínima chance de competir com o dinamismo e a instantaneidade do fantástico mundo virtual . Já os mais politizados dirão que isso foi uma consequência da postura nada imparcial do agora falecido jornal , sempre a favor do governo do Estado e de um certo candidato a prefeito de Joinville na última eleição municipal . Polêmicas e controvérsias à parte , o fato é que todos perderam com isso : a comunidade joinvilense , o jornalismo local , a classe artística ( o jornal era o que mais abria espaços para a cultura e artes locais ) , seus leitores e , principalmente , seus colaboradores , funcionários e profissionais de jornalismo - a maioria chefes ou chefas de família - , estando entre eles , infelizmente nomes , como HILTON GORRESSEN , DONALD MALSCHITZKY , LÉO SABALLA e , ele , o eterno contador de casos , jornalista e Forrest Gump , ROBERTO SZABUNIA .....Ironicamente , dias antes do fechamento do jornal , um dos decanos da imprensa joinvilense escreveu a crônica que você irá conferir em instantes e que é um descontraído e bem humorado misto de filosofia , reflexão e palavras motivacionais e que tem tudo a ver com aquelas histórias do "tempo de epa "expus há pouco e com os agora ex-colaboradores , profissionais e funcionários do " NOTÍCIAS DO DIA " . Portanto, meu sábio e palmeirense mestre ROBERTO SZABUNIA , isto também é uma homenagem para você ! .....CONFIRA :
 
"
 
Diz um provérbio japonês, de autoria indefinida ( pelo menos eu não achei o autor ) : ' Tropeçamos sempre nas pedras pequenas, as grandes logo enxergamos ' .
 
Taí, gostei. Eu não conhecia essa, encontrei-a ao acaso, tirando um cartão da caixinha de mensagens que Margit Olsen ( ABAIXO ) me estendeu dias antes do Natal.
 
Como sempre, demonstra a sabedoria oriental ( ABAIXO , UM MONGE BUDISTA ) , tão admirada e pouco praticada cá em bandas ocidentais.
 
Vou fazer dessa filosofia meu leme em 2017, praticando o que depreendi da mensagem. Ou seja : prestar atenção nas pedras pequenas, evitando nelas tropeçar. Ora, direis, tropicão em pedrinha não machuca. Ah, pode ser, pode ser... Mas atrapalha, tira o foco.
 
Vejamos. Você, ser humano do gênero masculino, acorda para mais um dia de trabalho. Despertou sozinho, sem o ' bom-dia '  estridente do rádio-relógio.
 
Nem olha a hora e já vai ao banheiro, faz o xixizinho básico, pega o barbeador elétrico ( ABAIXO ) , pluga-o à tomada e... Clique, clique... Nada.
 
Aciona o interruptor da luz e, mais uma vez, nada além do clique inócuo. Sem energia elétrica. Oquei, vamos ao banho, fazemos a barba mais tarde, quando a luz voltar. Opa ! Banho ? Sem eletricidade ? ( ABAIXO )
 
Ora, vamos lá, com esse calor um banho frio é até refrescante. É, né ? Vá, comece a se molhar logo. Pois é, tá quente e tal, mas entrar sob a água fria logo de manhãzinha pode ser infame pra algumas pessoas mais sensíveis ( ABAIXO ) .
 
Após o café a luz voltou, você enfim se barbeia. De forma imperfeita, pois o rosto foi umedecido no banho e os pelos se retraíram. Lá pelo meio-dia, parece um filhote de porco-espinho ( ABAIXO ) .
 
A pedra foi pequena, não é ? Mas veja o transtorno que uma simples queda de energia ( ABAIXO )  pode causar.
 
E daria pra enxergar essa pedra e evitar o tropeço ? Bem, aí entram alguns fatores condicionais. Se, ao abrir os olhos ( ABAIXO ) , você desse uma espiada no rádio-relógio, veria o mostrador escuro.
 
Opa ! Sem luz. O relógio de pulso tá logo ali, na penteadeira ( ABAIXO - Existe isso ainda ? ). Constatado que falta pouco pra hora de levantar, você já vai ao banheiro e,
 
sabendo da falta de energia, empresta o Prestobarba ( ABAIXO ) da patroa, improvisa uma espuma com sabonete mesmo e faz a barba na lâmina.
 
Claro que há outras pedrinhas, como a pele sensível que proporciona um banho de sangue.
 
Mas aí o jeito é chutar a pedra e ir em frente. Dê um bico também no pedregulho do banho frio e pronto, a rotina volta ao ritmo. Tudo porque você viu a pequena pedra e a evitou.
 
Durante os doze meses que começarão domingo você, com certeza, topará com uma verdadeira pedreira ao longo do caminho. Haverá exemplares de todos os tamanhos.
 
 Muitas vezes, em vez de contornar as pedras grandes, melhor será tirá-las do caminho; se não der conta, peça ajuda.
 
Evite, chute, recolha ou simplesmente pise sobre as pequenas. Sim, pise. Afinal, numa rua sem pavimento ( ABAIXO ) , o que ajuda a torná-la transitável ? Saibro, ora. Pedras minúsculas. Elas também têm utilidade.
 
Opa, olha só mais um antigo provérbio oriental que eu (ABAIXO ) acabo de inventar : ' Use as pedras pequena para pavimentar seu caminho ' .
Feliz Ano Novo ! "
 

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