quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
As Cadeiras e a Patologia da Normalidade
Ele é jornalista , publicitário e , pasmem , professor de arte marcial ( taekwondo )......JOSÉ ANTÔNIO BAÇO sempre está nas páginas do jornal A NOTÍCIA ou nas páginas virtuais do blog CHUVA ÁCIDA expondo sua opinião sincera e sem papas na língua sobre várias coisas que estão acontecendo , especialmente na Manchester catarinense . Na crônica de hoje , originalmente publicada no blog CHUVA ÁCIDA , ele comenta sobre algo que faz parte do comportamento do " Homo Joinvilensis " : a preocupação como o TRABALHO . CONFIRA :
"Tem muita coisa importante acontecendo por aí. Mas hoje vou falar de um tema que, parecendo irrisório, serve para compreender um pouco da patologia da normalidade (termo de Erich Fromm) dos joinvilenses: o costume de, nos bares e restaurantes, os donos levantarem as cadeiras (FOTO ABAIXO ) a partir de certa hora.
Já devo ter andado por algumas dezenas de países, do Paraguai ( FOTO ABAIXO )
à Noruega ( FOTO ABAIXO ) , e não me lembro de ter visto coisa parecida.
Correndo o risco de fazer uma análise redutora, acho que esse hábito deve ser uma exclusividade local: significa que é hora de 'ir embora' porque o dia seguinte é dia de trabalho. Repito sempre, nas conversas com amigos, que viver em Joinville ( FOTO ABAIXO )
provoca a sensação de estar dentro de um livro de Max Weber. ( FOTO ABAIXO )
Aliás, ele exultaria por ver vívida a teoria que em outros tempos dividiu opiniões. Ou melhor, irritou os católicos:
'Os homens de negócios e donos do capital, assim como os trabalhadores mais especializados
e o pessoal mais habilitado técnica e comercialmente das modernas empresas é predominantemente protestante'.
As cadeiras sobre as mesas são a metáfora de um certo insconsciente social. Têm o poder de mostrar como o tempo parou, como a cidade se fecha para o novo, como as ideias do ócio e da boêmia não se encaixam na realidade. Onde vão os intelectuais, os músicos, os artistas, as vanguardas, os disruptores e outros vagabundos? Não vão a lugar algum, porque não existe um lugar para eles. Talvez porque a cidade sequer permita que eles existam. ( ABAIXO , FOTO DE BAR NOTURNO EM JOINVILLE )
A noção de tempos livres mudou muito desde o início do capitalismo. E nas últimas décadas a evolução aconteceu de maneira dramática, em especial com a automatização crescente dos processos produtivos e a revolução digital. Nos dias de hoje, os tempos livres ganharam um estatuto adequado a essa nova realidade. É assim no mundo moderno. Mas em Joinville há quem se agarre patologicamente a um passado mítico, onde tudo era 'melhor'. ( ABAIXO , FOTO DA RUA 9 DE MARÇO NOS ANOS 70 )
O tal inconsciente social define que ser 'gente de bem' é ser ordeiro, trabalhador e não fazer marolas. Ou seja, a noção de liberdade está associada ao trabalho.
E para que não me acusem de fazer uma crítica ao espírito do trabalho, recorro aqui a uma fala de Theodor Adorno, ( FOTO ABAIXO )
quando ele fala de tempos livres: homens não-livres que vivem a não-liberdade como se liberdade fosse. Diz o sociólogo frankfurtiano:
'Se se curasse responder à questão sem asserções ideológicas, tornar-se-ia imperiosa a suspeita de que o tempo livre tende em direção contrária à de seu próprio conceito, tornando-se paródia deste. Nele se prolonga a não-liberdade, tão desconhecida da maioria das pessoas não-livres como a sua não-liberdade em si mesma' .
É a patologia da normalidade. E mais não digo.
P.S.: O leitor e a leitora devem estar a perguntar sobre o que justifica este texto. É que ontem fui 'convidado' a sair de um bar às 22h30min. ( ABAIXO , FOTO DE JOSÉ BAÇO )
Primeiro levantam-se as cadeiras, depois desliga-se o ar condicionado e por fim as luzes começam a ficar escassas. É hora de ir dormir. Porque amanhã é dia de trabalho."
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