segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
O Amor ao Risco
Pouco antes de inventar algo que ajudaria a revolucionar a humanidade , A LÂMPADA , THOMAS EDISON criou outro objeto revolucionário : O FONÓGRAFO , primeiro aparelho capaz de gravar e reproduzir sons . O fonógrafo seria uma espécie de bisavô dos atuais aparelhos como MP3 e iPhone e muito tempo depois , em 1948 , surgiu um tipo de disco muito mais leve, resistente e durável que o antigo disco 78 rotações : O VINIL . Como a Ciência está em constante evolução , na década de 90 os antigos vinis perderam espaço para o campact disc (cd)......Perderam espaço ? No que depender de muitos apaixonados o velho "bolachão" jamais perderá espaço , existindo inúmeros colecionadores do velho e bom vinil e um desses apaixonados é JOEL GEHLEN . Na crônica de hoje o escritor , jornalista , produtor e dirigente cultural comenta sobre sua paixão pelos velhos vinis e termina fazendo um verdadeiro poema em homenagem à eles. CONFIRA :
"Amo meus discos em vinil . Embora não ouça alguns deles há anos ; outros , estão há décadas dentro da capa . Carrego-os nessa vida um tanto cigana como se portassem o próprio tempo .
Neles não há apenas excelentes músicas , sambas do tempo de Cartola ,
as orquestras com Mahler , Wagner e Beethoven ;
Tom Jobim , João Gilberto e Caimmy à exaustão .
E todos os MPBs . Além das santíssimas divindades do jazz . Tenho quase tudo devidamente replicado em CDs , grande parte em MP3 e ainda um oceano sonoro inteiro disponível no youtube .
Esses velhos vinis estão além da música . Neles depositou-se , lentamente , na pátina de nossa última convivência , o inconfessável . Por onde terá vagado meu espírito enquanto ouvia essas músicas no outono de 1982 ?
Meu velho tocador , que me acompanha faz 30 anos , está girando em falso , o que faz o som levemente sair mais lento e distorcido . De vez em quando penso em leva-lo para o concerto , mas desisto .
Está cansado como um velho bluesman , (FOTO ABAIXO )
simplesmente não aguenta mais o peso da agulha , arrastar, arranhar , arrancar música de quilômetros e quilômetros de caminhos curvos e negros .
Então tem essa voz peculiar que lembra uma garganta alcoolizada . Gosto de pensar que todos os ritmos em sua agulha ganham um tom de blues . Muitas vezes me sento no sofá démodé da biblioteca ,
e deixo vagar o olhar sobre a coleção de discos cuidadosamente dispostos lado a lado , compondo uma massa compacta e irregular em que se destaca uma fimbria , disforme de plástico e papel .
Ao lado , o velho toca discos cola um bloco fumê com seu brilho um tanto opaco na tampa fechada .
Quando decido levantar, escolher um disco e pôr para rodar , impõem-se o ouvido da memória . Deixo de estar no sufocante clima desse cômodo , o olhar atravessa a janela e já está na terceira margem do tempo .
Consigo ver nitidamente o LP girando , em uma tarde distante , não menos melancólica , reflete feixes de uma luz fria . Antes de entrar a música ouço as ranhuras , aquele chiado típico do cristal da agulha arranhando o vinil . Nesse breve instante chiado entre uma música e outra cabe minha vida inteira .
Amo meus vinis pelos intervalos que contêm e não pelas suas canções , pois nem toda a melhor música do mundo seria capaz de trazer a galáxia sensorial que esse ruído breve reproduz em mim agora . "
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