segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Momento Num Bar

Ele nasceu em Recife mas veio coma família para o Rio de Janeiro quando tinha apenas 3 anos de idade ........ele também foi uma das raríssimas pessoas a captar com perfeição a alma do povo carioca , como provam obras antológicas de sua autoria : VESTIDO DE NOIVA , BEIJO NO ASFALTO , A DAMA DO LOTAÇÃO , ENGRAÇADINHA - SEUS PECADOS E SEUS AMORES , dentre tantas outras obras primas e que fizeram de NELSON FALCÃO RODRIGUES ( 1912-1980 ) , sem dúvida , um dos grandes nomes da literatura e da dramaturgia do Brasil . No extremo sul do Brasil o tímido e ao mesmo tempo bem humorado LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO , fazendo jus ao talento herdado de seu pai ÉRICO VERÍSSIMO ( 1905-1975) , personificou o gaúcho típico do interior na figura do hilário e impagável ANALISTA DE BAGÉ . Paranaense da pequena cidade de Mamborê e radicado em Joinville desde 1994  , o escritor , jornalista e produtor cultural JOEL GEHLEN não chegou a criar um personagem fictício representando o povo joinvilense . Seus personagens são reais : modestas pessoas  que lutam todos os dias pelo "pão nosso de cada dia "e a sobrevivência e que têm em um antigo e modesto bar do centro da cidade um dos cenários de suas histórias . É o que você verá na crônica de hoje . CONFIRA :

"Era uma tarde abafada ,



horas antes do fim de janeiro . Dia de fazer bancos e cartório no centro da cidade . Tempo instável , chuvisco , suor e mormaço . Antes de pegar o coletivo de volta para o bairro , fui tomar um café no botequim em frente ao terminal de transporte urbano . O estabelecimento está ali desde os tempos em que defronte funcionava a rodoviária de Joinville , nos anos 1970 .( FOTO ABAIXO , ESQUINA DA RUA DO PRÍNCIPE A RUA PRINCESA ISABEL  , A RODOVIÁRIA DE JOINVILLE FUNCIONOU NESSE LOCAL ATÉ 1971 )



 Bar de esquina , pequeno , inteiramente tomado por um balcão em 'U ' . Bem no vértice , o caixa em estilo antigo ,



cercado de escarrinhos em acrílico , transparecendo o colorido dessa miudeza , típica de doces , balas e chicletes . Meia dúzia de banquetas em cada lado . Café , suco de laranja



 e salgados compõem seu cardápio principal .

  É lugar do vaivém miudinho , sua clientela são balconistas do comércio popular da região central e os usuários que chegam e partem do terminal de ônibus .



 Gente simples , que dá um pulinho na esquina para esticar as pernas . Uma caixa de fósforos , 20 centavos , um cigarro solto , 50 centavos , duas balas de hortelã , 5 centavos . As moedas atiradas tilintando para dentro da registradora .



 Como um bailado , as atendentes equilibram chaleiras e bules ferventes no pequeno espaço dentro do balcão . Fico a pensar naquela moça que emprestou sua beleza e juventude a esse ramo e fala com tanto gosto :' Nasci e me criei dentro de um bar ' . Foi sua universidade e a fez com mérito , pois hoje ela sabe tudo da vida e das gentes .



  Um casal ainda jovem , mas já com três filhos , se aboleta do lado oposto . Duas meninas e um menino mais moço . Checam os salgados disponíveis e os preços . Todos esperam que o caçula faça sua escolha , ele passeia os olhos pela estufa , ciceroneado pela mãe  que canta as opções : pastel , bolinho de carne , esfira .....



.Nada o apetece . Por fim , decide-se pelo pastel .



 A meninota , mais que depressa , decide-se pelo bolinho de carne . A garota mais velha repassam os preços e fazem as contas antes de fechar o pedido . Para escolher a bebida repetem-se a prioridade e as dúvidas no guri . Por fim , todos matam a fome em silêncio : o pai , com olhos vagos , perdidos ; a mãe , terna e ansiosa ; as meninas , atentas e dóceis . E o garoto mastiga com ar acanhado , feito um enfermo . "


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