Engana-se quem pensa que as discussões acaloradas são algo exclusivo do FUTEBOL ou da tão desacredita POLÍTICA : mesmo em um ambiente tão pragmático e cartesiano , como a CIÊNCIA .....Um exemplo : talvez aquela velha questão sobre quem teria sido o PAI DA AVIAÇÃO - o tímido e fleumático mineirinho SANTOS DUMONT ( 1873-1932 ) ou os irmãos norte-americanos WILBUR e ORVILLE WRIGHT - jamais termine ( cá entre nós : aquilo que os americanos criaram - uma máquina voadora arremessada por uma catapulta - jamais pode ser chamado de avião ! ) . Outra controvérsia : QUEM TERIA SIDO O PAI DO AUTOMÓVEL ? Bom , candidatos é que não faltam : os franceses JOSEPH NICOLAS CUGNOT , JEAN JOSEPH ÉTIENNE LENOIR , LEFRÉVRE , LEVASSOR KREBS e RENÉ PANHARD , os alemães NIKOLAUS OTTO , GOTTLIEB DAIMLER e KARL BENZ e o norte-americano BRAYTON . O fato é que naquele período de mais 120 anos - entre 1769 e 1891 - cada um deles teve a sua importância nesse longo período de criação e desenvolvimento do automóvel e , portanto o mais justo e correto é considerá-los todos como seus pais ( veja mais a respeito disso no texto " SOM DE JOINVILLE : ACELERA ! " , postado no último dia 29 de agosto ) . OK , mas quem teria a primeira pessoa a ter o tino comercial , a incrível visão empresarial , o inside de perceber que aquela então curiosa e veloz - para os padrões da época - invenção poderia vir a ser um produto industrializável e comercial ? Se a paternidade do automóvel é múltipla e um tanto confusa , a primazia pela criação da INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA é do norte-americano RANSOM ELI OLDS ( 1864-1950 ) e ninguém tasca ! Talvez você já tenha muitas vezes ouvido falar que a cidade de DETROIT , localizada na fronteira com o Canadá , é o BERÇO DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA : pois foi justamente lá , mais precisamente em 1899 , fundou a REO MOTOR CAR COMPANY . Essa empresa pode não existir mais mas marcou época : ela fabricava os carros da marca OLDSMOBILE , verdadeira sensação no princípio do século 20 ( vele lembrar que o primeiro automóvel de Joinville , em 1907 , era justamente dessa marca e pertencia ao empresário EDUARD TRINKS ) . Quatro anos mais tarde , em 1903 e também em Detroit , seria a vez de outro americano- um engenheiro que tivera uma infância e uma juventude bastante humildes - começar a deixar a sua marca e de maneira tão forte que muitos pensam ter sido ele o inventor do automóvel : HENRY FORD ( 1863-1947 ) , que nesse fundou a FORD MOTOR COMPANY .
Tanto Ransom quanto Ford tinham outro ponto em comum : ambos criaram o MODO DE PRODUÇÃO EM SÉRIE , baseada na montagem progressiva - dividida em etapas - do automóvel ( Ford foi mais além : criou um sistema de assistência aos seus funcionários bastante avançado para a época , sendo quase que paternalista e que seria adotado em várias partes do mundo ) . Isso foi uma verdadeira revolução , não só para o setor automobilístico mas para o próprio setor industrial : afinal , quanto maior a produção mais barato fica o produto ( o clássico modelo FORD T , fabricado entre 1908 e 1927 , teve 15 milhões de unidades vendidas e o próprio Ford costumava dizer a seguinte frase : " FABRICO CARROS DE QUALQUER COR , DESDE QUE SEJAM PRETOS " ; a explicação : a tinta preta era a mais barata e secava mais rápido ) .....É claro que a segurança e a resistência dos automóveis produzidos em série não foram esquecidos : nas décadas seguintes surgiram incontáveis itens , como cintos de segurança, freios nas rodas , vidros que não estilhaçam , para-brisas , carrocerias mais resistentes, etc...etc....o que faz a indústria automobilística ser uma das mais inovadores e dinâmicas . Ninguém nega a praticidade , a comodidade , o conforto e nem a gigantesca importância que os automóveis têm para a sociedade moderna ( como é sabido , em países como Estados Unidos e Brasil tê-los é uma questão de status e é algo enraizado na cultura local ) mas vamos e viemos : trata-se de um meio de transporte caro , poluente , perigoso e que ainda por cima pode vir a ser mais letal do que uma arma e que vem sendo , já há décadas , desestimulado em países de primeiríssimo mundo , como Suécia , Dinamarca , Bélgica e Holanda . Ao estar dirigindo , por acaso você em detalhes tão simples e maravilhosos que a mãe natureza nos brinda , como uma flor desbrochando , uma árvore crescendo , o horizonte no fim do dia ou um pássaro ? Complicado , não é mesmo ? Em um misto de lirismo com crítica social , ou em suas próprias palavras , " NA ESPERANÇA DE QUE PELO MENOS UMA PESSOA SE CONSCIENTIZE LENDO MEUS TEXTOS " , o escritor são bentense DONALD MALSCHITZKY nos brinda coma ótima crônica a seguir .....CONFIRA :
"Embalavam-se os poucos ramos amarelos ao ruído do riacho
a descer a montanha, burilar as pedra e levantar efêmeras
espumas ao longo do leito esculpido.
Mais adiante, esperavam os
lambaris ( ABAIXO ) nos pequenos poços de leve calmaria.
Em algum lugar, as
árvores armazenavam vento e, prenúncio de Primavera ( ABAIXO ) ,
emprenhavam-se de sementes , pois chegava o tempo de procriar.
Galhos diziam adeus ao Inverno ( ABAIXO ) que, neste ano, ficou mais tempo
do que o esperado, como acontece com quem gosta da paisagem.
Tucanos ( ABAIXO ) já grasnavam seus roucos cantos e rasgavam vales com
seu voar de sobes e quedas.
A flor do ipê ( ABAIXO ) , meio escondida, meio envergonhada, espreitava
as abelhas e os zangões após suas decolagens, carregados de
pólen destinado a desvirginar outras flores.
O verde quase
monocromático ( ABAIXO ) farfalhava na exuberância das escarpas pontilhadas
de rochas a expor sua nudez ao ar ainda frio e seco, sem vontade
de se despedir agora que já se acostumara.
Poucos motoristas davam-se conta do pedaço de Brasil
escondido na paisagem; preferiam mirar o negro da rodovia, ávidos
por ultrapassar quem quer que fosse
desde que chegassem antes
ao destino nem tão urgente, nem tão preciso, que a vida é a soma
dos segundos e é preferível perdê-los como um raio do que vivê-los
por instantes, nem que seja.
E o Brasil balançava ao lado da corrente, lar de pássaros e
insetos.
Verde e verde, e um ipê amarelo ( ABAIXO ) a quebrar a monotonia.
De alguma forma, os picos suspendiam a abóboda azul salpicada
de traços de nuvens,
mas os passageiros não se davam conta do
que pulsava ao seu redor ; falavam de frivolidades e amaldiçoavam
o sinal da Internet ( ABAIXO ) que caía.
Cuidavam da estrada, alguns, como a
prevenir os motoristas do que viria se não fossem eles a avisá-los.
Acabara o feriado, transformado em feriadão para muitos que
entupiam a estrada ( ABAIXO ) carregados de cobertores, isopores e enfados a
disputar lugar nos assentos apertados com pernas e costas
queimadas de sol e vento, mesmo que frio.
Ninguém explica porque
a bagagem da volta é maior do que a da ida, a lutar contra a lógica.
A flor de ipê balançava um aceno de adeus, que já se ia,
posto que efêmera, a pousar de leve no solo até fenecer.
O motorista apressado buzinou com raiva. "
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