Asas Cortadas

Quantas religiões existem no mundo ? Trata-se de uma pergunta que até mesmo os teólogos e estudiosos do assunto não saibam responder , principalmente visto a grande e impressionante quantidade de novas religiões evangélicas surgidas nos últimos tempos . Apenas um desses grandes ramos religiosos , o CRISTIANISMO , é dividido em 18 vertentes , como o CATOLICISMO , O ESPIRITISMO e o PROTESTANTISMO ,  que por sua vez são divididas em inúmeras religiões . Entre tantos credos religiosos , existe um fato comum a quase todas eles , além é claro , da crença em Cristo : a crença em ANJOS ......Acredita-se que esses seres - misto de lenda , mitologia e algo lúdico - habitam o paraíso celestial  junto a Deus e são os mensageiros das vontade divina , sendo dotados de raciocínio mas não sendo constituídos de matéria  e sim sendo espíritos  , materializando-se apenas em casos muito raros e especiais . De acordo com essa mesma crença são divididos de acordo com a sua natureza e função que exercem , sendo dos seguintes tipos : anjos , arcanjos , tronos , dominações , principados ,potestades , virtudes , querubins e serafins . Diz ainda essa crença que para cada pessoa existe um anjo protetor , chamado de CUSTÓDIO ou ANJO DA GUARDA e a Igreja Católica reserva a data de 2 de outubro para celebrá-los .......Pelo jeito apenas os cristãos podem ter anjos .......

    Como é sabido  há duas semanas  correu o mundo uma imagem chocante e até revoltante : o menino sírio AYSLAN , de apenas 3 anos de idade , morto em uma praia turca ......Ele e sua família morreram afogados ao tentarem fugir da fome , da miséria e da opressora ditadura liderada pelo covarde e tirano BASHAR AL-ASSAD  que governa a Síria com mãos de aço desde 17 de julho de 2000 . Assim como eles  milhões de pessoas , oriundas da região do Oriente Médio e do norte da África , também vivem situação semelhança e muitos vêm arriscando a  própria vida , e até a perdido , na esperança de ter uma vida digna no chamado VELHO MUNDO , ou seja , a Europa........Independente do fato de se ser religioso , não seguir religião alguma ou ser ateu , é impossível não ficar indignado e chocado ao ver as imagens desse verdeiro show de horrores que vêm acontecendo : pessoas recebendo um tratamento pior do que um cão vira-lata .......Essa mesma Europa que despreza e humilha os quem vem de fora , se auto intitula "civilizada " e que registra quase insignificantes taxas de natalidade , depende da mão-de-obra barata de africanos e asiáticos para os trabalhos ditos pesados e durante séculos explorou e destruiu as mais variadas e numerosas civilizações , algumas delas até mais evoluídas que a européia , como as dos incas , maias e astecas . Por sinal , também foi na Europa que surgiram muitas dessas religiões cristãs : catolicismo , luteranismo , metodismo , prebisterianismo , kardecismo......Não custa lembrar também que as mesmas opressoras e tacanhas ditaduras , origem desses milhões de refugiados , também são apoiadas por muitos países europeus.......A revolta e a indignação não tarão de volta as vidas do pequeno menino sírio e das tantas pessoas que perderam sua vida em busca de um sonho mas , como diz a sabedoria , DESABAFAR LIBERA TENSÕES , FANTASMAS E SENTIMENTOS PESADOS........Na crônica-desabafo de hoje , o escritor DONALD MALSCHITZKY , aquele mesmo que em uma entrevista aqui mesmo no ALAMEDA CULTURAL em novembro de 2013 afirmou ter sempre esperança de que seus críticos textos conscientizem alguém , faz interessantes e pertinentes observações . CONFIRA :



"Nos últimos dias fomos invadidos pela imagem do horror na



forma de um anjo morto,

 afogado numa praia que o  resgataria do



horror da guerra dos adultos e seu rastro de fome, violência,



insensatez. Jazia na praia, como poderia estar numa cama,



esperando pelo carinho da mãe, e artistas o colocaram numa cama,

munido de asas, pois precisaria delas para voar antes da hora,

já



que o hálito também lhe fora tirado. O mundo que gosta de



números,

 pensa que é apenas mais um, e é, e isso torna tudo



muito pior: é mais um, mais um, mais um, mais muitos.



Fogem do fogo da loucura nos olhos, do ódio que não se



explica,

 do medo do hoje e da incerteza do amanhã. Fogem em



busca do que sequer sabem direito o que será, sabem apenas que



é melhor do que dar passos em pântanos áridos que sugam suas



forças, seus brilhos, seus filhos, suas almas. E morrem nas fugas



em barcos apinhados,

 em caminhões lacrados. Morrem sem que



alguém o sinta. E sofrem violência e descaso e discriminação.



Alguns poucos são recebidos e têm a oportunidade de se integrar,



mas as levas continuam.

Na escola, fomos ensinados a venerar nossos heróis de



guerra , ( ABAIXO , DUQUE DE CAXIAS , PATRONO DO EXÉRCITO BRASILEIRO )

 os hinos nacionais de enorme número de países falam mais



em guerra do que em paz,

 e quase nenhum fala em tolerância; os



locais públicos são infestados de nomes de quem se tornou famoso



por matar seus semelhantes. A coragem de enfrentar situações



difíceis, como tomar decisões dolorosas, reconhecer o erro, pedir



perdão,

 estar ao lado da justiça e da verdade mesmo que isso



possa ser perigoso, esta coragem não merece quase nada de



atenção, não é valorizada, não recebe  homenagens.



No filme ' Stalingrado –  batalha final ', ( ABAIXO )  talvez o mais



verdadeiro filme de guerra jamais filmado,

há uma cena em que um



soldado é atingido por uma descarga e seu corpo  cortado ao meio,



a metade de cima cai em pé e ele sobrevive por breves instantes,



gritando, para desespero de seus companheiros. Esse é o heroísmo



da guerra: por volta de 1.400.000 pessoas, entre soldados e civis,



morreram em Stalingrado . ( ABAIXO )

 Muitos de fome  e frio, seguindo ordens



de líderes desvairados.  Quantos deles são nomes de ruas ? Mas



nomes dos generais

que ordenaram a matança figuram em placas.



A guerra corta as asas dos anjos, como do ' Menino de sua



mãe ' , de Fernando Pessoa : ( ABAIXO )

 ' Lá longe, em casa, há a prece:/ Que



volte cedo, e bem!/ (Malhas que o império tece!)/ Jaz morto, e



apodrece/ O menino de sua mãe '.  E não tem como colá-las de



volta, já não podem voar. "