segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Mais Perfumado Que Mão de Barbeiro

Você aí com as suas dívidas , com o o seu emprego mal pago e mal valorizado e tendo de enfrentar os problemas do cotidiano nosso de cada dia cederia o pouco que tem em favor de pessoas em situação muito pior que as sua ? Talvez após o que você acabou de ler tenha pensado : " Vocês estão loucos ! É ruim , hein ? " . Pois um de nossos personagens do dia não tinha rigorosamente nada e mesmo assim cedia o quase nada que tinha em favor de pessoas em situação tão ou mais difícil que a dele .......Ele fez parte daquele seletíssimo grupo de pessoas que agem em prol da coletividade  em não em prol de si mesmas . Além de generoso e corajoso ( ser altruísta também é um ato de coragem ) , foi um herói  no sentido clássico da palavra , existindo inevitavelmente uma aura de lenda e misticismo em torno dele ......Nascido  em 9 de dezembro de 1579 em Lima , a capital do então vice-reino do Peru ( que incluía quase toda a América do Sul ) , era fruto do relacionamento entre um nobre e administrador colonial espanhol e uma escrava alforriada e só foi reconhecido pelo pai alguns anos depois de seu nascimento . Após viver com ele alguns anos - período em que chegou a viver nos atuais Equador e Panamá - MARTINHO DE PORRAS ( Sim , era esse o sobrenome dele ! Não é brincadeira ! ) acabou sendo criado pela mãe e ainda criança aprendeu com MATEO PASTOR três ofícios : cirurgião , dentista e barbeiro . Mas com apenas 15 anos de idade descobriu a sua vocação : a vida religiosa . Ingressou na Ordem de São Domingos , embora essa Ordem religiosa não aceitasse  pessoas negras e mulatas ......e acabou ocupando o mais baixo cargo na hierarquia daquela instituição : o de irmão cooperador , sendo quase um escravo , e acredite , por opção própria !

     Martinho era o que poderia se chamar de "pau pra toda obra " : cortava o cabelo dos frades , cuidava da limpeza  do convento , da sua enfermaria , era sineiro e ainda encontrava tempo para cultivar um pequena horta com ervas medicinais , tratar os doentes não só do convento mas de toda a comunidade em seu quarto e ainda esmolar e com o dinheiro arrecadado ajudar pessoas necessitadas . Já havia adquirido uma certa fama , quando o bispo da cidade de La Paz esteve em Lima e o procurou para que o curasse de uma terrível doença e aí que entra a lenda : o simples toque da mão de Martinho no peito do tal bispo o teria curado da doença .......Doente , levando uma vida acética e trabalhando intensamente , Martinho acabou falecendo em 3 de novembro de 1639 e só foi declarado santo pela Igreja Católica em 1962 . Como não ficaria bem um santo , ou seja , uma figura que encarna todas as qualidades e virtudes cristãs ter o nome de PORRAS , optou-se por mudar seu nome para MARTINHO DE PORRES ( a emenda foi pior que o soneto ! ) ........Além de ser padroeiro dos mestiços católicos ele também é padroeiro dos.......BARBEIROS ! Sim , essa figura tão popular  , e que é misto de artista , psicólogo , filósofo , amigo e confidente , também tem seu santo e é uma das profissões que insistem em desafiar o tempo , especialmente a contínua e frenética evolução tecnológica . E foi só muito recentemente que os barbeiros , assim como os cabeleleiros , manicures , maquiadores e outros profissionais do setor de beleza e estética tiveram a sua profissão reconhecida , mais especificamente através da lei 12.592 de 18 de janeiro de 2012 . Como a lei foi publicada no Diário Oficial do dia seguinte , a data de 19 de janeiro é o dia dos barbeiros , assim como as datas de 6 de setembro e 3 de novembro . Na crônica de hoje o jornalista e contador de histórias ROBERTO SZABUNIA relembra um barbeiro da sua querida e natal Rio Negrinho .......Certeza de boas histórias ! CONFIRA :



"A expressão que intitula essa crônica é bem popular e carrega um significado



valioso para quem viveu a fase adulta em meados do século passado, quando



o barbear



era, mais que uma ação de higiene pessoal ou cuidado estético, um



ritual. Vou me ater às minhas lembranças para situar o leitor mais jovem, que



hoje executa em poucos minutos, com o barbeador elétrico,



 uma tarefa



antigamente demorada.



Na minha família, meu avô, o dziadek, ou “Diaca”, como o chamávamos,



 fazia



a barba uma vez por semana, aos sábados, em casa mesmo, com espuma de



sabonete e navalha. Já meu pai e os tios preferiam dar uma passada, duas ou



três vezes por semana, no barbeiro.



 Gessner morava ali mesmo, no bairro



Alegre, e além do competente profissional que era, também fazia parte das



rodas de amizade – de resto, algo comum na Rio Negrinho de então ( ABAIXO, DESFILE DE SETE DE SETEMBRO EM RIO NEGRINHO , NOS ANOS 60 ) , com seus



dez mil moradores.





Fazer a barba duas ou três vezes semanalmente e cortar o cabelo a cada dois



ou três meses eram, como frisei ali em cima, um ritual.



 No barbeiro rolava o



bate-papo, a fofocagem. Sim, caríssima leitora! Quem imagina que o salão de



beleza é a matriz da fofoca por excelência, nem faz ideia do que rolava no



Gessner,



 enquanto os distintos fregueses esperavam a vez. E a pimenta no ar



aumentava, à medida que a fila de espera vinha do outro lado da rua, da



venda/bar do Evaldo Treml, onde os mercedinhos de pinga eram esvaziados.





Felizmente, as perfumadas loções do barbeiro rebatiam o bafo da cachaça.



O barbear era feito sem pressa, escanhoando com cuidado as ásperas faces



dos operários da Móveis Cimo. ( ABAIXO )



Gessner afiava bem a navalha, caprichava na



espuma e era cuidadoso no processo. Eventuais e inevitáveis pontinhos de



sangue eram rapidamente estancados com uma pomadinha apropriada. Ainda



assim, nem a anestesia da caninha impedia que aqueles machões destemidos



fizessem caretas quando o barbeiro arrematava a tarefa com a perfumada



loção. Quem faz barba com lâmina sabe a que me refiro.





Eu, como toda a piazada do bairro,



 também era frequentador do barbeiro



Gessner. Ia sempre de dia. Se algum amigo já estivesse na cadeira sendo



atendido, gostava de ler e reler os exemplares da revista O Cruzeiro



que iam



se acumulando sobre a mesinha; era uma maneira de tomar conhecimento do



mundo além das fronteiras da nossa pequena comunidade. Claro que não



fazíamos a barba, era só pra cortar o cabelo. Mas devo admitir: sentia um certo



orgulho quando o saudoso Gessner passava um bocadinho de espuma nas



costeletas e na nuca, seguindo-se o cuidadoso raspar da navalha. E no final,



quando vinha a perfumada loção,



 procurava manter a mesma expressão de



macheza dos adultos, sem demonstrar estar sentindo o leve ardume nos



pontos raspados. Saíamos satisfeitos do barbeiro, cabelinho cortado e ' barba



feita '.



- Depois meu pai paga – arrematávamos, sabendo que a conta seria quitada



mais tarde,



 quando os adultos chegavam para barba-e-cabelo, após o



expediente na Cimo ou na oficina do Evaristo.



Parabéns aos profissionais do cabelo pelo Dia do Barbeiro, domingo, 6 de



setembro. "


Um comentário:

  1. Ainda pra arrematar, o blogueiro acha uma foto em que o autor da crônica está desfilando...

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